A CHEGADA
”Ele chegará a
Roma de uma terra distante para encontrar tribulação e morte.”
Monge de
Pádua
- Não podemos mais permanecer aqui Vossa
Santidade. Temos que nos retirar urgentemente. – disse em tom de desespero o
chefe da Guarda Suíça, já quase tocando o Papa e também olhando de relance pela
janela do Palácio.
No entanto, aquela voz ainda parecia soar
distante na consciência do Papa e sua atenção continuava numa retrospectiva do
passado.
O
acontecimento daquele dia de sua ordenação tornou-se um divisor de aguas em sua
consciência. Porém, aquele anúncio que tinha recebido o padre era maior do que
ele podia suportar. Então criou coragem e procurou o seu mentor espiritual, o bispo
de sua região. Ele era um homem tranquilo tinha acompanhado a caminhada daquele
homem desde que ainda menino, havia chegado a um dos seminários da região. Logo
percebeu seus esforços e sua determinação nos estudos, se tornaria brevemente um
brilhante teólogo, um homem construindo sua fé.
-
Senhor, lhe pedi uma audiência, porque vivi uma experiência que não pude
entender.
-
Claro meu padre. – disse o bispo esperando do novo presbítero esclarecimentos
sobre quais seriam suas novas funções.
Então o padre começou a contar
ao seu bispo tudo o que tinha ocorrido durante a cerimonia de sua ordenação,
principalmente em relação ao anuncio que ele considerava agora ser uma
revelação sobre o seu destino. Os olhos do padre se encheram de lágrimas após
vários minutos de narração. O bispo ouviu atentamente o seu padre e no final do
relato pronunciou calmamente:
- Nosso destino pertence Àquele
que nos enviou.
O padre ficou atônito. Observou
que o Bispo não tinha dado importância ao seu relato. Só depois de muito tempo,
entenderia que aquele homem já bem experiente estava querendo lhe dizer que
mais importante do que ficar esperando um evento acontecer, deveria ser viver
intensamente todos os dias de sua vida.
- O que você gostaria de fazer
para suas atividades? Gostaria de trabalhar numa paróquia da diocese ou prefere
continuar sendo um formador de vocações? – disse o Bispo querendo lhe dizer
para que seguisse o rumo da vida.
- Se o senhor me permitir,
gostaria de continuar meu trabalho nos seminários.
O bispo conhecia sua vocação
apesar de sua pouca idade e o nomeou um dos professores responsáveis pela
formação dos jovens seminaristas.
Durante anos a rotina numa
diocese principalmente como professor de um seminário e ainda longe dos centros
mais importantes da Igreja parecia tornar aquela profecia algo imensamente
distante do seu verdadeiro destino.
Poucos são os que percebem que estão sendo
preparados no dia a dia para assumirem aquilo para o qual foram destinados.
Quem pode ser maior do que o seu
próprio Destino?
- Padre, você gostaria padre de aperfeiçoar
seus estudos em Roma? – disse o bispo ao seu melhor professor.
O bispo e o padre estavam numa
conversa informal no pátio do seminário e o padre sentiu seu coração reconhecer
que seu destino estava agindo.
- Como assim senhor? – disse o
padre sentindo dentro de si uma alegria descomunal.
- Conversei com nosso Arcebispo
e ele pediu que eu indicasse alguém para aprofundar seus estudos de teologia em
Roma e eu pensei em você. – concluiu o bispo como se aquilo fosse a coisa mais
rotineira do mundo.
- Seria um imenso prazer. –
respondeu o padre expressando plena certeza.
- Você não gostaria nem de
pensar, ficará distante de nosso país por anos completando seus estudos.
- Vossa Excelência
Reverendíssima. – falou o padre desligando-se de tudo que estava ao seu redor
naquele pátio e procurando fitar os olhos do bispo concluiu – é o que mais
desejo realizar em minha vida. Não tenho dúvida alguma sobre esse vosso pedido.
Quando posso partir?
- Acalme-se. – afirmou o bispo
com o mesmo sorriso de sempre no canto dos lábios. – tenho que indicar o seu
nome e o nosso Arcebispo tentará providenciar os tramites.
Foram os dias mais longos para o
padre. Quando a resposta positiva chegou ele era o homem mais feliz daquele
tempo.
Preparou suas malas e quando
colocou pela primeira vez seus pés em Roma, sentiu pisar em terra conhecida. Olhava para os prédios da cidade como quem
olha para as casas em que morou quando ainda era criança. Respirava o ar e se
recordava de uma memória distante que ainda nem se quer conhecia. Surgiu em seu
ser a sensação de que estava onde realmente deveria estar.
Lido...
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