terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Capitulo 07 - A ROSEIRA DA ROSA AMARELA



Capitulo 07
A ROSEIRA DA ROSA AMARELA

                                                                                                                            
            "A faca cortará a terra como o camponês corta o pão.
            O pão será partido em dois com a faca cujo cabo foi recortado da roseira da rosa amarela. 
            Pedro foi fechado em um covil.
            De guarda fica o velho lobo.
            E assim será até que as estrelas se rebelarão contra o homem."           
                                                                   Aranha Negra                      
  


O Papa entrou pelos corredores das catacumbas do Vaticano como se fossem os caminhos do quintal de sua casa nos tempos em que ainda era criança. O Chefe da Guarda o acompanhava surpreso com a vitalidade que ainda tinha aquele homem já de idade bem avançada. Ao chegar diante do mural de entrada da Sala Sagrada perguntou ao Papa:
- Para onde iremos agora, Santidade?
O Santo Padre colocou o dedo indicador sobre os lábios pedindo silencio ao Chefe da Guarda. Os dois ficaram em silencio e parecia que um grande barulho vinha de cima das catacumbas, deduziram que provavelmente a Catedral de São Pedro podia estar sendo invadida.  


O Prefeito da Biblioteca do Vaticano enviou um dos seus auxiliares para servir ao Papa como desenhista, algo que ninguém havia ainda entendido. Era um jovem monge que tinha uma caligrafia excepcional, chegava a ser capaz de copilar livros antigos que possuíam desenhos em aquarelas extraordinárias. Era conhecido por seus amigos do Vaticano como “Michelangelo”.
- Qual é o vosso nome filho? – perguntou o Papa ao jovem monge.
- Meu nome é irmão Miguel, Vossa Santidade.
- Me acompanhe filho.
O Papa saiu de seu escritório e caminhou pelos corredores que levavam para fora do palácio. Os dois se distanciaram um pouco dos seguranças que os acompanhavam a pedido do próprio Pontífice. Ele queria estar a só com o jovem monge. Procurou então caminhar pelos jardins do Vaticano. Ali não existiam paredes que pudessem escutar as suas conversas.
- Filho, tenho tido um sonho frequente com um símbolo. Gostaria de descrevê-lo e saber se você o conhece, ou se já viu em seus estudos pela biblioteca e se não o viu ainda gostaria que sigilosamente o procurasse entre os arquivos.
O monge estava ainda completamente acanhado diante daquela figura extraordinária a quem tinha um respeito enorme, não apenas pelo cargo que exercia, mas pelo carisma e alegria com que o líder de sua Igreja transmitia, então disse em voz baixa.
- Vossa Santidade poderia dizer como seria esse símbolo?
Então o Papa descreveu detalhadamente o sol que tinha visto não só em seu sonho como também nos símbolos que se encontravam em suas lembranças.
- Filho, você consegue compreender esse símbolo?
- Sim, Santidade, só não consegui entender exatamente o que estava em seu centro.
Os dois caminhavam pelos corredores do jardim do palácio e o Papa foi feliz ao ver uma rosa da roseira amarela. Através dela conseguiu descrever o centro de seu símbolo.
- Filho você está vendo essa linda rosa amarela? O centro do sol que vejo é tão brilhante quanto a luz que irradia dessa flor.
O jovem monge ficou observando estático a beleza da flor e então respondeu:
- Santidade, gosto muito dos símbolos que tenho encontrado pelos arquivos que venho estudando e o sol é um símbolo frequente. Encontramos em quase todos os murais e vitrais o sol como símbolo. Em livros então é muito frequente. Tenho visto representações de sóis e estrelas com uma quantidade infinita de pontas e raios. O que parece ser diferente é o centro que o senhor descreve, algo parecido como uma rosa não é muito comum. Ainda não tinha reparado no centro de uma flor, ela realmente parece uma espiral. Prometo procurar nos arquivos da biblioteca algo parecido com isso.
- Irmão Miguel, preciso contar com vossa discrição nesse vosso trabalho e considere tudo isso como algo sigiloso. Ninguém, nem mesmo o Prefeito da Biblioteca precisa saber o que estamos procurando, já disse à ele que todos os arquivos devem estar a sua disposição e que a vossa pesquisa deve ser reportada apenas para mim.
- Claro Santidade.
- Posso realmente contar com vossa lealdade filho?
- Vossa Santidade pode ficar tranquila. Farei uma pesquisa minuciosa.
Os dois homens continuaram a caminhar pelos jardins e a conversar sobre a vida do jovem e sua vocação.
- Filho agora você está liberado para o seu trabalho. – então o Papa chamou os seus seguranças que liberaram o jovem para se retirar do jardim.
O líder do Trono de Pedro continuou sua caminhada pelas alamedas do jardim em busca de silencio e com ele conquistar momentos de oração e meditação. Apesar de estar no governo de sua Igreja por apenas alguns meses sentia o peso de sua jornada. O que mais lhe incomodava era o completo isolamento que trazia aquela liderança. Sentia-se de alguma forma completamente sozinho, sem poder confiar nem mesmo em seus amigos.
O tom verde de vários matizes gerado pela flora exuberante do lugar, de plantas trazidas dos vários cantos do mundo tinha arremessado sua consciência de alguma maneira para um estado mais ampliado. Sentiu todo o peso da jornada ser divido com uma força maior do que ele e disse em voz alta a si mesmo:
- Bendito seja O Senhor nosso Deus!
Quando o Pontífice percebeu, estava diante da grande fonte do jardim. O barulho da água fez com que sua atenção retornasse ao estado presente.
Quanto presente conseguimos nos manter diante de nós mesmos?
Resolveu então não terminar sua caminhada. Precisava andar pelos jardins e se sentir de alguma forma livre. Sua administração estava completamente travada. Suas ordens esbarravam na burocracia. Estava completamente enclausurado em seu trono e o pior, sentia-se num covil.
Seguiu sua caminhada e alcançou o coração espiritual dos jardins, a Gruta de Lourdes. Lá uma réplica exata da estátua de Nossa Senhora que está em Massabielle, França, ocupa o lugar central. Emoldurada com um manto verde brilhante de hera ela atinge um grande esplendor. Sua Santidade diante daquela beleza teve uma visão pessoal.
“Viu uma enorme procissão subindo todas as vielas dos jardins na direção da luz que provinha da gruta. Era noite e todos traziam tochas apagadas empunhadas em suas mãos e mesmo na escuridão entoavam cânticos e súplicas por perdão.”
Seus pensamentos corriam querendo entender a visão do que via. O que poderia ser aquilo, talvez o povo cristão em busca de um caminho de luz. Luz do Espírito a qual o próprio Papa buscava naqueles instantes de seu pontificado.
 A visão continuou apesar dos pensamentos gerados pelo Pontífice:
“A luz que emana da gruta se intensificou de tal maneira que parecia a luz de uma grande estrela e quatro seres com muito esforço conseguiram encostar suas tochas na luz e elas acenderam. Então eles começaram a caminhar no meio dos corredores escurecidos pela noite e depois de se posicionarem em lugares estratégicos começaram a acender todas as outras tochas. Os corredores começaram a se acender como se vulcões estivessem derramando lavas pelos caminhos. O que era noite parecia ter se iluminado.”
Mais uma vez o Papa voltou sua atenção para o momento presente, só que agora parecia que uma nova luz tinha clareado sua consciência. 

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