Capitulo 07
A ROSEIRA DA ROSA AMARELA
"A faca cortará
a terra como o camponês corta o pão.
O pão será
partido em dois com a faca cujo cabo foi recortado da roseira da rosa amarela.
Pedro foi fechado
em um covil.
De guarda fica o
velho lobo.
E assim será até
que as estrelas se rebelarão contra o homem."
Aranha Negra
O
Papa entrou pelos corredores das catacumbas do Vaticano como se fossem os
caminhos do quintal de sua casa nos tempos em que ainda era criança. O Chefe da
Guarda o acompanhava surpreso com a vitalidade que ainda tinha aquele homem já
de idade bem avançada. Ao chegar diante do mural de entrada da Sala Sagrada
perguntou ao Papa:
-
Para onde iremos agora, Santidade?
O
Santo Padre colocou o dedo indicador sobre os lábios pedindo silencio ao Chefe
da Guarda. Os dois ficaram em silencio e parecia que um grande barulho vinha de
cima das catacumbas, deduziram que provavelmente a Catedral de São Pedro podia estar
sendo invadida.
O Prefeito
da Biblioteca do Vaticano enviou um dos seus auxiliares para servir ao Papa
como desenhista, algo que ninguém havia ainda entendido. Era um jovem monge que
tinha uma caligrafia excepcional, chegava a ser capaz de copilar livros antigos
que possuíam desenhos em aquarelas extraordinárias. Era conhecido por seus
amigos do Vaticano como “Michelangelo”.
- Qual é o
vosso nome filho? – perguntou o Papa ao jovem monge.
- Meu nome é
irmão Miguel, Vossa Santidade.
- Me
acompanhe filho.
O Papa saiu
de seu escritório e caminhou pelos corredores que levavam para fora do palácio.
Os dois se distanciaram um pouco dos seguranças que os acompanhavam a pedido do
próprio Pontífice. Ele queria estar a só com o jovem monge. Procurou então
caminhar pelos jardins do Vaticano. Ali não existiam paredes que pudessem
escutar as suas conversas.
- Filho,
tenho tido um sonho frequente com um símbolo. Gostaria de descrevê-lo e saber
se você o conhece, ou se já viu em seus estudos pela biblioteca e se não o viu
ainda gostaria que sigilosamente o procurasse entre os arquivos.
O monge
estava ainda completamente acanhado diante daquela figura extraordinária a quem
tinha um respeito enorme, não apenas pelo cargo que exercia, mas pelo carisma e
alegria com que o líder de sua Igreja transmitia, então disse em voz baixa.
- Vossa
Santidade poderia dizer como seria esse símbolo?
Então o Papa
descreveu detalhadamente o sol que tinha visto não só em seu sonho como também
nos símbolos que se encontravam em suas lembranças.
- Filho,
você consegue compreender esse símbolo?
- Sim,
Santidade, só não consegui entender exatamente o que estava em seu centro.
Os dois
caminhavam pelos corredores do jardim do palácio e o Papa foi feliz ao ver uma
rosa da roseira amarela. Através dela conseguiu descrever o centro de seu
símbolo.
- Filho você
está vendo essa linda rosa amarela? O centro do sol que vejo é tão brilhante
quanto a luz que irradia dessa flor.
O jovem
monge ficou observando estático a beleza da flor e então respondeu:
- Santidade,
gosto muito dos símbolos que tenho encontrado pelos arquivos que venho estudando
e o sol é um símbolo frequente. Encontramos em quase todos os murais e vitrais
o sol como símbolo. Em livros então é muito frequente. Tenho visto
representações de sóis e estrelas com uma quantidade infinita de pontas e
raios. O que parece ser diferente é o centro que o senhor descreve, algo
parecido como uma rosa não é muito comum. Ainda não tinha reparado no centro de
uma flor, ela realmente parece uma espiral. Prometo procurar nos arquivos da
biblioteca algo parecido com isso.
- Irmão
Miguel, preciso contar com vossa discrição nesse vosso trabalho e considere tudo
isso como algo sigiloso. Ninguém, nem mesmo o Prefeito da Biblioteca precisa
saber o que estamos procurando, já disse à ele que todos os arquivos devem
estar a sua disposição e que a vossa pesquisa deve ser reportada apenas para
mim.
- Claro
Santidade.
- Posso
realmente contar com vossa lealdade filho?
- Vossa
Santidade pode ficar tranquila. Farei uma pesquisa minuciosa.
Os dois homens
continuaram a caminhar pelos jardins e a conversar sobre a vida do jovem e sua
vocação.
- Filho
agora você está liberado para o seu trabalho. – então o Papa chamou os seus
seguranças que liberaram o jovem para se retirar do jardim.
O líder do
Trono de Pedro continuou sua caminhada pelas alamedas do jardim em busca de
silencio e com ele conquistar momentos de oração e meditação. Apesar de estar
no governo de sua Igreja por apenas alguns meses sentia o peso de sua jornada.
O que mais lhe incomodava era o completo isolamento que trazia aquela
liderança. Sentia-se de alguma forma completamente sozinho, sem poder confiar
nem mesmo em seus amigos.
O tom verde de
vários matizes gerado pela flora exuberante do lugar, de plantas trazidas dos
vários cantos do mundo tinha arremessado sua consciência de alguma maneira para
um estado mais ampliado. Sentiu todo o peso da jornada ser divido com uma força
maior do que ele e disse em voz alta a si mesmo:
- Bendito
seja O Senhor nosso Deus!
Quando o
Pontífice percebeu, estava diante da grande fonte do jardim. O barulho da água
fez com que sua atenção retornasse ao estado presente.
Quanto
presente conseguimos nos manter diante de nós mesmos?
Resolveu então
não terminar sua caminhada. Precisava andar pelos jardins e se sentir de alguma
forma livre. Sua administração estava completamente travada. Suas ordens
esbarravam na burocracia. Estava completamente enclausurado em seu trono e o
pior, sentia-se num covil.
Seguiu sua
caminhada e alcançou o coração espiritual dos jardins, a Gruta de Lourdes. Lá
uma réplica exata da estátua de Nossa Senhora que está em Massabielle, França,
ocupa o lugar central. Emoldurada com um manto verde brilhante de hera ela
atinge um grande esplendor. Sua Santidade diante daquela beleza teve uma visão
pessoal.
“Viu uma
enorme procissão subindo todas as vielas dos jardins na direção da luz que
provinha da gruta. Era noite e todos traziam tochas apagadas empunhadas em suas
mãos e mesmo na escuridão entoavam cânticos e súplicas por perdão.”
Seus
pensamentos corriam querendo entender a visão do que via. O que poderia ser
aquilo, talvez o povo cristão em busca de um caminho de luz. Luz do Espírito a qual
o próprio Papa buscava naqueles instantes de seu pontificado.
A visão continuou apesar dos pensamentos
gerados pelo Pontífice:
“A luz que
emana da gruta se intensificou de tal maneira que parecia a luz de uma grande
estrela e quatro seres com muito esforço conseguiram encostar suas tochas na
luz e elas acenderam. Então eles começaram a caminhar no meio dos corredores
escurecidos pela noite e depois de se posicionarem em lugares estratégicos
começaram a acender todas as outras tochas. Os corredores começaram a se acender
como se vulcões estivessem derramando lavas pelos caminhos. O que era noite
parecia ter se iluminado.”
Mais uma vez
o Papa voltou sua atenção para o momento presente, só que agora parecia que uma
nova luz tinha clareado sua consciência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário