Capitulo 14
O SETE ENCONTRAR O SETE
Passa a sombra de um anjo a vereda; escancaradas as portas do
cemitério.
Um trovão tremendo, um redemoinho, uma flecha; e tudo passará
depressa.
Virá como um ladrão o Grande Dono; sentireis apenas um grande
abalo.
Quando o sete encontrar o sete, a humanidade inteira estará em
aperto.
Voltarão os mortos, cairá o firmamento; para todos no vale há o
encontro.
O anjo piedoso escreverá sobre o cálice:
“Aqui jaz”.
Finalmente a Terra pousará em paz.
Mago
Ladino
Enquanto
o Papa se dirigia ao centro da Sala Sagrada, o Chefe da Guarda continuava a
reparar no ambiente em que se encontravam, talvez fosse a força do hábito de
sua profissão. Observou então com detalhes o ambiente em que estava e realmente
a sala formava um hexágono e em parede ou porta existiam símbolos que pareciam
letras que ele desconhecia.
-
Chefe. - disse o Papa voltando-se ao seu acompanhante antes de atingir o meio
da sala e continuou – acho melhor fecharmos a porta por onde entramos.
-
Santidade, depois saberemos como sair dessa sala?
-
Fique tranquilo. Daremos um jeito.
Os dias de
férias continuaram não como a agenda que o Pontífice enfrentava no Vaticano, no
entanto as consultas continuavam a serem feitas todos os dias. Conformou-se,
parecia que realmente esse seria o seu novo ritmo. Escolheu então receber e
despachar apenas pela manha e a tarde e noite deixar livre para os seus
períodos de contemplação e para a sua busca pessoal. Para isso manteve o monge
Miguel no castelo durante sua estada.
Resolveu
então mostrar para o monge a biblioteca particular que tinha descoberto no
quarto.
- Miguel
está vendo esta coleção, olhei alguns livros e um pouco de textos. Eles em sua
maioria se referem a vaticínios sobre a vida dos Papas. Gostaria que você
olhasse com detalhes, talvez possamos encontrar algo que nos ajude. Quem sabe o
que procuramos não está no Vaticano e sim neste castelo ou talvez em outro
lugar.
- Sim
Santidade, quando posso começar nossas pesquisas?
- Pode ser agora Miguel, hoje estou como dia
quase livre, irei apenas atender pela manha o Secretário Geral do Vaticano que
está me trazendo alguns informes importantes.
Ao dizer
isso o Papa percebeu que o semblante do monge se transformou, ele tentou
disfarçar só que era um jovem transparente incapaz de não demonstrar o que
estava acontecendo em seu interior. O Pontífice então resolveu não tocar
novamente no assunto.
- Vou descer
para o escritório do castelo e você fica a vontade em suas buscas.
- Obrigado
Santidade. – disse o monge já se dirigindo na direção dos livros
entusiasmadamente.
O Santo
Padre então se dirigiu para a saída do quarto e sentia que algo estava indo no
caminho certo principalmente na busca de decifrar os enigmas. Seu mordomo o esperava
quando ele abriu a porta. Vivia tão desconfiado de tudo que estava acontecendo
ao seu redor que imaginou por um instante se aquele homem não estava ouvindo
suas conversas por trás das portas. Só que daquela possivelmente não ouviria
muita coisa, pois era grossa tanto quanto as paredes e feita de madeira
centenária.
Enquanto o
Papa descia as escadas o monge mergulhava no oceano que tanto amava. As gotas
daquelas aguas eram formadas de papel e os habitantes eram letras que juntas
formavam palavras e que próximas criavam ideias e que unidas formavam o
universo do qual o conhecimento beirava o infinito.
O monge
nunca tinha colocado todo o seu corpo nas águas salgadas do mar, mas naquelas
águas literárias era um exímio mergulhador. Logo estava imerso até a
consciência pelas ondas das ideias dos livros que o cercava naquela enorme
estante, mas que para ele era apenas um pequeno braço de mar. Estava habituado
a desbravar oceanos sem fim como era a Biblioteca do Vaticano. Lá mergulhava
até as profundezas onde nenhuma luz existia. Onde nenhum homem poderia alcançar
por causa das pressões e da ausência de luz ele conseguia lá estar. Usava a
intuição como ninguém para se colocar na trilha das marés e nadar por águas
seguras.
Foi assim
que logo depois de olhar os livros de uma forma mais geral orou com
profundidade para que suas mãos fossem guiadas pela força do Espírito. Ele
estava diante de várias coleções e muitos livros isolados que falavam quase
todos de profecias de todos os tempos, desde o antigo testamento até videntes e
profetas contemporâneos. Olhando rápido uma coisa lhe chamou a atenção, uma das
coleções possuía apenas sete livros isso não era comum, normalmente eram dez,
vinte ou até cinco livros. Escolheu então começar por ela sua procura. Ela
estava voltada para vaticínios dos fins dos tempos.
Sentou na
escrivaninha onde o Santo Padre parecia fazer suas anotações e fazer seus
estudos naqueles dias de descanso. Pegou os sete livros da estante e os amontou
ao seu lado. Era de seu costume primeiro olhar rapidamente em toda a coleção
para depois dissecar um a um e muitas foram as vezes em até que começou de trás
para frente. Pois foi nessa passagem rápida como os olhos pelos livros que no
sétimo livro encontrou uma frase grifada: ‘Quando o sete encontrar o sete, a
humanidade inteira estará em aperto. ’ E o que mais lhe chamou a atenção era
que a frase inteira estava grifada só que nas palavras ‘ Sete encontrar o sete’
o grifo estava com mais ênfase.
Procurou
então ver quem era o seu autor, Mago Ladino, leu um pouco de sua história que
estava no começo do livro e depois se concentrou no aquilo podia ser chamado de
“canto poético”. Percebeu então que como a maioria das profecias ela estava
relacionada a um terrível fim dos tempos.
‘O que seria
então o sete encontrando o sete’. – pensou o monge consigo mesmo e procurando a
claridade de uma janela em busca de iluminação para a sua consciência.
- Como estão
as pesquisas, meu filho?
O monge se
assustou com as palavras.
- Perdão
Santidade estava distraído pensando no que poderia ser esse pequeno enigma.
- Qual
enigma dessa vez Miguel?
- Quando o
sete encontrar o sete. – responde e explicou onde tinha encontrado a frase
sublinhada.
Não havia
percebido, mas a manhã toda já havia passado naquela sua busca.
- Vamos dar
uma pausa para nos alimentarmos e deixar essa busca cozinhar em fogo baixo em
nossa consciência, mais tarde voltamos a nossas pesquisas.
- Santidade,
mas o que seria um sete encontrando um sete?
- O sete é
um número que indica perfeição e pode ser usado desde a Invocação dos anjos até
uma Evocação de demônios. – disse o Papa usando sua sabedoria das escrituras.
- Então
estamos nos referindo a um enigma gigantesco.
- Talvez não,
quem sabe seja apenas uma coisa muito simples. Só que agora vamos dar um
descanso. – disse o Santo Padre sorrindo querendo retirar o monge daquela imersão.
Uma das
formas de se decifrar algo é se distanciar da procura.
O monge e o
Papa então se retiraram para o almoço que não durou muito, pois o entusiasmo do
jovem também contagiava. Voltaram então lentamente para os aposentos do Santo
Padre e para o ponto em que estavam.
- Quando o
sete encontrar o sete, a humanidade inteira estará em aperto. – disse o monge
em voz alta só que pensativo e repetindo a frase do Mago Ladino.
Entretanto o
Pontífice tentou manter-se distraído de tudo aquilo, foi em direção a sacada
enquanto Miguel voltara a concentração total sobre os livros, queria desvendar
aquilo o mais urgente possível.
O Papa então
olhou para dentro observando a enorme estante e sua mente repetiu para si mesmo
‘ o sete encontrar o sete’ e olhou distraidamente para a estante contanto
1,2,3,4,5,6 e 7 era a quantidade de divisórias da esquerda para a direita da
estante. Olhou novamente e da direita para a esquerda também se chegava ao sete
e contou de baixo para cima e de cima para baixo também se chegava a uma sétima
divisória que estava vazia.
- Miguel
esses livros estavam naquele vazio da estante?
- Sim
Santidade.
- E só
estavam eles lá naquele lugar?
-
Aparentemente sim Santidade.
- Posso lhe
pedir uma coisa?
- De uma
olhada melhor naquele espaço.
- Sim
Santidade! Algum problema?
- Lá o sete
encontra o sete.
- Como
assim!
- De onde
quer que você conte os módulos da estante eles acabam chegando ao numero sete,
de onde você retirou esses sete livros.
-
Interessante, vou subir para olhar melhor. – falou o monge já pegando uma
cadeira e subindo e assim olhando melhor o espaço em que estavam os livros.
Olhou para os lados da prateleira, para o fundo e aparentemente não havia nada
de diferente, apenas um espaço vazio.
- E então
Miguel alguma coisa diferente?
-
Aparentemente nada Santidade, ficou apenas o espaço vazio.
O Papa ficou
pensando um pouco e tantos anos andando por mosteiros, palácios e igrejas já
tinha visto muitas formas de se esconder algo quando se queria.
- Bata na
madeira do fundo da estante.
O monge sem
entender nada fez o que o seu mestre havia mandado,
-
Aparentemente está tudo normal, Santidade.
- Tire
alguns livros da prateleira do lado e bata no fundo dela.
O monge
assim o fez e ai então entendeu o que o Papa estava dizendo.
- O som
parece um pouco diferente, na que está vazia parece ser diferente.
- Deixe-me
subir Miguel.
- Mas
Santidade é perigoso.
- Preciso
ver isso Miguel.
Então o
Monge não teve como conter o homem e se preocupou apenas uma possível queda do
Papa.
- Antes
Miguel, tranque aquela porta.
O Papa subiu
realmente na cadeira e olhou, tocou o fundo procurando algum tipo de abertura.
Foi quando imaginou que talvez ele pudesse correr e o empurrou com as mãos para
uma das laterais e percebeu que ela de alguma forma parecia se mover. Realmente
era corrediça.
- Miguel,
pegue outra cadeira e tente me ajudar parece que o fundo se move.
O monge
correu para pegar uma outra cadeira e com a força dos dois homens o fundo correu
da direita para a esquerda lentamente para de trás da prateleira vizinha. Uma
pequena abertura surgiu só que por trás dela uma parede de tijolos antigos.
Parecia não querer continuar o deslize e ter travado a corrediça, a abertura
não chegava ao meio do vão que continha a prateleira. O Papa mais experiente
colocou seu dedo indicador por trás da espécie de porta que corria, havia uma
trava. Pediu então para o monge pegar algo que pudesse empurrar uma espécie de
lingueta que travava a corrediça da madeira.
Miguel então
desceu da cadeira e pegou um abridor de cartas e o entregou ao Santo Padre, foi
quando a porta de entrada sofreu batidas.
- Santidade,
telefone para o senhor. – disse a voz do mordomo por trás da porta.
Aquele era
um momento único e o Santo Padre gritou da cadeira em que estava em pé:
- Anote o
recado. Depois ligarei.
- Mas
Santidade, a chamada é do Vaticano e é urgente.
- Seja o que
for, anote. Pode esperar.
- Está bem
Santidade.
O Papa pegou
o abridor de cartas e com sua ponta destravou a espécie o pino. A porta
corrediça continuo a deslizar. Então por trás dela uma pequena abertura como
aquelas em que um santo fica dentro do oco da parede. Ao seu redor havia uma
espécie de acabamento saliente formando uma rebarba por onde o fundo corrediço
da prateleira travava ao tocar. O buraco era fundo e o Santo Padre não teve
dúvidas enfiou a mão e dele saiu um anel e dentro dele um pequeno pergaminho.
-
Encontramos Miguel o que procurávamos. – disse o Papa entregando a relíquia ao
monge que estava abaixo de boca aberta esperando as novidades.
- Santidade,
o anel.
- Psiu. –
disse o Papa colocando o dedo em sua boca solicitando que aquilo fosse dito em
sigilo.
O Santo
Padre com a ajuda do monge praticamente pulou da cadeira e retomou em suas mãos
o anel com o pergaminho. Os dois então abriram juntos sobre a pequena mesa o
pergaminho enrolado e para a surpresa dos dois era o desenho do símbolo do anel
de Salomão. Olharam o mapa parecia apenas ser a cópia do símbolo que estava no anel,
só que tinha como título: Mapa do Vaticano.
Os dois
homens olharam um para o outro sem mais uma vez poder compreender o que poderia
ser aquilo. Sentaram nas cadeiras em que tinham subido para investigar a
estante e colocaram o pequeno pergaminho sobre a mesa. Um olhava o pergaminho o
outro estava encantado pela joia.
- O que você
acredita ser esse mapa Miguel e o anel é realmente o de Salomão?
- Santidade,
quanto ao anel observe por dentro está grafado o outro lado da estrela e o mapa
parece ser apenas uma representação da estrela no anel, não teria sentido se
fosse um mapa de algum lugar do Vaticano, ficaria muito claro para qualquer um
visualizar esse símbolo dentro de qualquer parte.
- E se
estivesse escondido em algum lugar que não fosse assim tão visível como, por exemplo,
nas catacumbas do Vaticano?
- Aí não sei
dizer Santidade, nunca estivesse nem perto dessas catacumbas.
- Observe no
mapa, as pontas da estrela possuem seguimentos que não estão representados nos
anéis.
- Poderiam
ser passagens escondidas pelos subsolos, talvez!
- Quem sabe
realmente possam ser, só que onde estariam essas aberturas e será o caminho
para alguma outra construção ou apenas um sarcófago?
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