quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Capitulo 14 - O SETE ENCONTRAR O SETE




Capitulo 14
O SETE ENCONTRAR O SETE
                                                                                                                            
            



Passa a sombra de um anjo a vereda; escancaradas as portas do cemitério.
Um trovão tremendo, um redemoinho, uma flecha; e tudo passará depressa.
Virá como um ladrão o Grande Dono; sentireis apenas um grande abalo.
Quando o sete encontrar o sete, a humanidade inteira estará em aperto.
Voltarão os mortos, cairá o firmamento; para todos no vale há o encontro.
O anjo piedoso escreverá sobre o cálice:
“Aqui jaz”.                                                                     
Finalmente a Terra pousará em paz.
                                                                       Mago Ladino                 
  


Enquanto o Papa se dirigia ao centro da Sala Sagrada, o Chefe da Guarda continuava a reparar no ambiente em que se encontravam, talvez fosse a força do hábito de sua profissão. Observou então com detalhes o ambiente em que estava e realmente a sala formava um hexágono e em parede ou porta existiam símbolos que pareciam letras que ele desconhecia.
- Chefe. - disse o Papa voltando-se ao seu acompanhante antes de atingir o meio da sala e continuou – acho melhor fecharmos a porta por onde entramos.
- Santidade, depois saberemos como sair dessa sala?
- Fique tranquilo. Daremos um jeito.



Os dias de férias continuaram não como a agenda que o Pontífice enfrentava no Vaticano, no entanto as consultas continuavam a serem feitas todos os dias. Conformou-se, parecia que realmente esse seria o seu novo ritmo. Escolheu então receber e despachar apenas pela manha e a tarde e noite deixar livre para os seus períodos de contemplação e para a sua busca pessoal. Para isso manteve o monge Miguel no castelo durante sua estada.
Resolveu então mostrar para o monge a biblioteca particular que tinha descoberto no quarto.
- Miguel está vendo esta coleção, olhei alguns livros e um pouco de textos. Eles em sua maioria se referem a vaticínios sobre a vida dos Papas. Gostaria que você olhasse com detalhes, talvez possamos encontrar algo que nos ajude. Quem sabe o que procuramos não está no Vaticano e sim neste castelo ou talvez em outro lugar.
- Sim Santidade, quando posso começar nossas pesquisas?
 - Pode ser agora Miguel, hoje estou como dia quase livre, irei apenas atender pela manha o Secretário Geral do Vaticano que está me trazendo alguns informes importantes.
Ao dizer isso o Papa percebeu que o semblante do monge se transformou, ele tentou disfarçar só que era um jovem transparente incapaz de não demonstrar o que estava acontecendo em seu interior. O Pontífice então resolveu não tocar novamente no assunto.
- Vou descer para o escritório do castelo e você fica a vontade em suas buscas.
- Obrigado Santidade. – disse o monge já se dirigindo na direção dos livros entusiasmadamente.
O Santo Padre então se dirigiu para a saída do quarto e sentia que algo estava indo no caminho certo principalmente na busca de decifrar os enigmas. Seu mordomo o esperava quando ele abriu a porta. Vivia tão desconfiado de tudo que estava acontecendo ao seu redor que imaginou por um instante se aquele homem não estava ouvindo suas conversas por trás das portas. Só que daquela possivelmente não ouviria muita coisa, pois era grossa tanto quanto as paredes e feita de madeira centenária.
Enquanto o Papa descia as escadas o monge mergulhava no oceano que tanto amava. As gotas daquelas aguas eram formadas de papel e os habitantes eram letras que juntas formavam palavras e que próximas criavam ideias e que unidas formavam o universo do qual o conhecimento beirava o infinito.
O monge nunca tinha colocado todo o seu corpo nas águas salgadas do mar, mas naquelas águas literárias era um exímio mergulhador. Logo estava imerso até a consciência pelas ondas das ideias dos livros que o cercava naquela enorme estante, mas que para ele era apenas um pequeno braço de mar. Estava habituado a desbravar oceanos sem fim como era a Biblioteca do Vaticano. Lá mergulhava até as profundezas onde nenhuma luz existia. Onde nenhum homem poderia alcançar por causa das pressões e da ausência de luz ele conseguia lá estar. Usava a intuição como ninguém para se colocar na trilha das marés e nadar por águas seguras.
Foi assim que logo depois de olhar os livros de uma forma mais geral orou com profundidade para que suas mãos fossem guiadas pela força do Espírito. Ele estava diante de várias coleções e muitos livros isolados que falavam quase todos de profecias de todos os tempos, desde o antigo testamento até videntes e profetas contemporâneos. Olhando rápido uma coisa lhe chamou a atenção, uma das coleções possuía apenas sete livros isso não era comum, normalmente eram dez, vinte ou até cinco livros. Escolheu então começar por ela sua procura. Ela estava voltada para vaticínios dos fins dos tempos.
Sentou na escrivaninha onde o Santo Padre parecia fazer suas anotações e fazer seus estudos naqueles dias de descanso. Pegou os sete livros da estante e os amontou ao seu lado. Era de seu costume primeiro olhar rapidamente em toda a coleção para depois dissecar um a um e muitas foram as vezes em até que começou de trás para frente. Pois foi nessa passagem rápida como os olhos pelos livros que no sétimo livro encontrou uma frase grifada: ‘Quando o sete encontrar o sete, a humanidade inteira estará em aperto. ’ E o que mais lhe chamou a atenção era que a frase inteira estava grifada só que nas palavras ‘ Sete encontrar o sete’ o grifo estava com mais ênfase.
Procurou então ver quem era o seu autor, Mago Ladino, leu um pouco de sua história que estava no começo do livro e depois se concentrou no aquilo podia ser chamado de “canto poético”. Percebeu então que como a maioria das profecias ela estava relacionada a um terrível fim dos tempos.
‘O que seria então o sete encontrando o sete’. – pensou o monge consigo mesmo e procurando a claridade de uma janela em busca de iluminação para a sua consciência.
- Como estão as pesquisas, meu filho?
O monge se assustou com as palavras.
- Perdão Santidade estava distraído pensando no que poderia ser esse pequeno enigma.
- Qual enigma dessa vez Miguel?
- Quando o sete encontrar o sete. – responde e explicou onde tinha encontrado a frase sublinhada.
Não havia percebido, mas a manhã toda já havia passado naquela sua busca.
- Vamos dar uma pausa para nos alimentarmos e deixar essa busca cozinhar em fogo baixo em nossa consciência, mais tarde voltamos a nossas pesquisas.
- Santidade, mas o que seria um sete encontrando um sete?
- O sete é um número que indica perfeição e pode ser usado desde a Invocação dos anjos até uma Evocação de demônios. – disse o Papa usando sua sabedoria das escrituras.
- Então estamos nos referindo a um enigma gigantesco.
- Talvez não, quem sabe seja apenas uma coisa muito simples. Só que agora vamos dar um descanso. – disse o Santo Padre sorrindo querendo retirar o monge daquela imersão.
Uma das formas de se decifrar algo é se distanciar da procura.
O monge e o Papa então se retiraram para o almoço que não durou muito, pois o entusiasmo do jovem também contagiava. Voltaram então lentamente para os aposentos do Santo Padre e para o ponto em que estavam.
- Quando o sete encontrar o sete, a humanidade inteira estará em aperto. – disse o monge em voz alta só que pensativo e repetindo a frase do Mago Ladino.
Entretanto o Pontífice tentou manter-se distraído de tudo aquilo, foi em direção a sacada enquanto Miguel voltara a concentração total sobre os livros, queria desvendar aquilo o mais urgente possível.
O Papa então olhou para dentro observando a enorme estante e sua mente repetiu para si mesmo ‘ o sete encontrar o sete’ e olhou distraidamente para a estante contanto 1,2,3,4,5,6 e 7 era a quantidade de divisórias da esquerda para a direita da estante. Olhou novamente e da direita para a esquerda também se chegava ao sete e contou de baixo para cima e de cima para baixo também se chegava a uma sétima divisória que estava vazia.
- Miguel esses livros estavam naquele vazio da estante?
- Sim Santidade.
- E só estavam eles lá naquele lugar?
- Aparentemente sim Santidade.
- Posso lhe pedir uma coisa?
- De uma olhada melhor naquele espaço.
- Sim Santidade! Algum problema?
- Lá o sete encontra o sete.
- Como assim!
- De onde quer que você conte os módulos da estante eles acabam chegando ao numero sete, de onde você retirou esses sete livros.
- Interessante, vou subir para olhar melhor. – falou o monge já pegando uma cadeira e subindo e assim olhando melhor o espaço em que estavam os livros. Olhou para os lados da prateleira, para o fundo e aparentemente não havia nada de diferente, apenas um espaço vazio.
- E então Miguel alguma coisa diferente?
- Aparentemente nada Santidade, ficou apenas o espaço vazio.
O Papa ficou pensando um pouco e tantos anos andando por mosteiros, palácios e igrejas já tinha visto muitas formas de se esconder algo quando se queria.
- Bata na madeira do fundo da estante.
O monge sem entender nada fez o que o seu mestre havia mandado,
- Aparentemente está tudo normal, Santidade.
- Tire alguns livros da prateleira do lado e bata no fundo dela.
O monge assim o fez e ai então entendeu o que o Papa estava dizendo.
- O som parece um pouco diferente, na que está vazia parece ser diferente.
- Deixe-me subir Miguel.
- Mas Santidade é perigoso.
- Preciso ver isso Miguel.
Então o Monge não teve como conter o homem e se preocupou apenas uma possível queda do Papa.
- Antes Miguel, tranque aquela porta.
O Papa subiu realmente na cadeira e olhou, tocou o fundo procurando algum tipo de abertura. Foi quando imaginou que talvez ele pudesse correr e o empurrou com as mãos para uma das laterais e percebeu que ela de alguma forma parecia se mover. Realmente era corrediça.
- Miguel, pegue outra cadeira e tente me ajudar parece que o fundo se move.
O monge correu para pegar uma outra cadeira e com a força dos dois homens o fundo correu da direita para a esquerda lentamente para de trás da prateleira vizinha. Uma pequena abertura surgiu só que por trás dela uma parede de tijolos antigos. Parecia não querer continuar o deslize e ter travado a corrediça, a abertura não chegava ao meio do vão que continha a prateleira. O Papa mais experiente colocou seu dedo indicador por trás da espécie de porta que corria, havia uma trava. Pediu então para o monge pegar algo que pudesse empurrar uma espécie de lingueta que travava a corrediça da madeira.
Miguel então desceu da cadeira e pegou um abridor de cartas e o entregou ao Santo Padre, foi quando a porta de entrada sofreu batidas.
- Santidade, telefone para o senhor. – disse a voz do mordomo por trás da porta.
Aquele era um momento único e o Santo Padre gritou da cadeira em que estava em  pé:
- Anote o recado. Depois ligarei.
- Mas Santidade, a chamada é do Vaticano e é urgente.
- Seja o que for, anote. Pode esperar.
- Está bem Santidade.
O Papa pegou o abridor de cartas e com sua ponta destravou a espécie o pino. A porta corrediça continuo a deslizar. Então por trás dela uma pequena abertura como aquelas em que um santo fica dentro do oco da parede. Ao seu redor havia uma espécie de acabamento saliente formando uma rebarba por onde o fundo corrediço da prateleira travava ao tocar. O buraco era fundo e o Santo Padre não teve dúvidas enfiou a mão e dele saiu um anel e dentro dele um pequeno pergaminho.
- Encontramos Miguel o que procurávamos. – disse o Papa entregando a relíquia ao monge que estava abaixo de boca aberta esperando as novidades.
- Santidade, o anel.
- Psiu. – disse o Papa colocando o dedo em sua boca solicitando que aquilo fosse dito em sigilo.
O Santo Padre com a ajuda do monge praticamente pulou da cadeira e retomou em suas mãos o anel com o pergaminho. Os dois então abriram juntos sobre a pequena mesa o pergaminho enrolado e para a surpresa dos dois era o desenho do símbolo do anel de Salomão. Olharam o mapa parecia apenas ser a cópia do símbolo que estava no anel, só que tinha como título: Mapa do Vaticano.
Os dois homens olharam um para o outro sem mais uma vez poder compreender o que poderia ser aquilo. Sentaram nas cadeiras em que tinham subido para investigar a estante e colocaram o pequeno pergaminho sobre a mesa. Um olhava o pergaminho o outro estava encantado pela joia.
- O que você acredita ser esse mapa Miguel e o anel é realmente o de Salomão?
- Santidade, quanto ao anel observe por dentro está grafado o outro lado da estrela e o mapa parece ser apenas uma representação da estrela no anel, não teria sentido se fosse um mapa de algum lugar do Vaticano, ficaria muito claro para qualquer um visualizar esse símbolo dentro de qualquer parte.
- E se estivesse escondido em algum lugar que não fosse assim tão visível como, por exemplo, nas catacumbas do Vaticano?
- Aí não sei dizer Santidade, nunca estivesse nem perto dessas catacumbas.
- Observe no mapa, as pontas da estrela possuem seguimentos que não estão representados nos anéis.
- Poderiam ser passagens escondidas pelos subsolos, talvez!
- Quem sabe realmente possam ser, só que onde estariam essas aberturas e será o caminho para alguma outra construção ou apenas um sarcófago?

Nenhum comentário:

Postar um comentário