Capitulo 08
O LIVRO DOS ESCOLHIDOS
“Depois disso,
vi quatro anjos que se conservavam em pé nos quatro cantos da terra. Eles
detinham os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra,
sobre o mar ou sobre qualquer árvore. E vi um outro anjo que subia do lado onde
nasce o sol, levando o selo do Deus vivo. Ele gritou em alta voz aos quatro
anjos que tinham recebido poder para danificar a terra e o mar, dizendo: ‘Não
danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, enquanto não marcarmos a
fronte dos servos de nosso Deus.’ Então, ouvi o numero dos que foram marcados:
cento e quarenta e quatro mil marcados, de todas as tribos dos filhos de
Israel.”
Apocalipse de São
João
Quando
parecia que o silencio havia reaparecido, o Santo Padre pegou um saquinho de pano que trazia
por trás de sua túnica e retirou um anel que o Chefe da Guarda desconhecia e o
colocou num centro de um sol e pareceu destravar alguma coisa. Repetiu então o
mesmo gesto do outro lado com o Anel do Pescador que se encontra no seu dedo da
mão direita. Ouviu então outro destravamento.
-
Vamos agora empurrar. – disse o Papa indicando como se fazia para abrir aquilo
que não se imaginava ser uma porta.
-
Para onde estamos indo Sumo Pontífice? – cochichou o chefe da guarda.
-
Vamos pegar o Grande Sétimo.
-
O que é esse Grande Sétimo, Santidade?
-
É o que o filho do mal está tentando localizar invadindo o Vaticano.
O jovem
monge Miguel já estava ha meses vasculhando os arquivos em busca de decifrar a
estrela solar, como ele mesmo começou a se referir. Ele estava trabalhando
principalmente em tudo aquilo que não estava catalogado o que era a maior parte
dos arquivos. Apesar de já a dez anos trabalhar como bibliotecário e se dedicar
a digitalização das obras, tinha um dom raro de desenhar então normalmente se
preocupava com a maioria dos livros figurativos.
Não era um
trabalho nada fácil procurar algo naquele labirinto de papel e também moedas.
Milhares e milhares de obras estavam armazenadas e boa parte delas era
desconhecida da própria história. Só a intuição ou algo superior para encontrar
um símbolo dentro de um universo quase infinito de informações.
“Algo muito
importante poderia ser abandonado facilmente no meio de tudo aquilo e
dificilmente seria encontrado, ou talvez colocado em outro lugar reservado onde
também não pudesse ser descoberto.” – pensou o monge bibliotecário pegando uma
das obras e folheando lentamente.
- Estou
trabalhando nas grandes obras humanas na Biblioteca do Vaticano, um sonho que
tenho desde criança e agora recebo uma grande missão e não sei se quer por onde
começar. – falou agora baixinho para si mesmo. – que tal começar pelo início! Vaticanus,
a colina das profecias. Conhecimento do futuro, talvez nos livros proféticos.
Vou começar por eles. – concluiu dizendo baixinho.
Não havia
dias da semana nem horas do dia para a sua busca, mas uma coisa sempre o
acompanhava. Algo ou alguém a todo instante estava a observar o monge. Sempre
tinha essa sensação e quando olhava repentinamente podia observar uma sombra.
Mesmo na era da tecnologia, naquele lugar os olhos humanos ainda eram a melhor
forma de vigiar.
Os símbolos
são instrumentos de manifestação mais profunda do inconsciente não só
individual como também coletivo. Cada letra, cada palavra, cada nota é uma
forma simbólica de representação e o que ele buscava podia ser encontrado num
simples rodapé. Daí uma busca sem fim.
Naquele dia,
estava sentindo dor em suas costas de tanto ficar debruçado sobre a mesa,
sentiu um sono repentino, procurou então caminhar um pouco pelos aparentes
quilômetros de corredores da biblioteca. Pegou o livro que estava folheando
colocou no lugar e saiu sem rumo. Sem perceber ficou minutos vagando e sem
direção andou em círculos e voltou ao mesmo lugar onde estava anteriormente,
olhou para o livro que estava folheando e ele não estava colocado no lugar da
forma com que tinha deixado. Não era só uma impressão, ele realmente estava
sendo monitorado. Para disfarçar começou a andar novamente sem rumo.
E foi
andando sem rumo que parecendo chegar ao lugar que provavelmente nunca
procuraria nenhum tipo de informação. Milhares de livros que retornaram ao
Vaticano vindos de Paris provenientes da retirada feita por Napoleão Bonaparte,
quando da invasão da Itália. Eles ainda se encontravam como se estivessem chegado
ontem de sua viagem de ida e volta.
“Será que
aquele homem procurava apenas riquezas ou quem sabe algum tipo de conhecimento
que o conduziria para definitivamente dominar o mundo de sua época?” – pensou o
monge em pleno silencio.
Tudo aquilo
era assustador. Pegar naquelas obras era como tocar um pouco do pó com o tempo
gravado em cada partícula. O monge tinha decidido procurar livros proféticos,
só que não existiam ali nenhum tipo de ordem além de um livro atrás do outro em
numerosas prateleiras. Todos acinzentados. Pareciam blocos prensados das cinzas
de uma enorme fogueira. Ao pegar um dos livros em suas mãos o monge Miguel pode
sentir o trauma causado a cada um deles. Viveu em sua memória os soldados de
Napoleão carregando cada joia rara como se estivessem carregando pedras para se
construir uma prisão. E os livros mesmos depois de libertos traziam consigo a
dor de terem sido invadidos em suas páginas por mãos que buscavam apenas o
conhecimento do poder obscuro.
Os que se
utilizam dos olhos do coração conseguem ver e enxergar além.
Foram
infindos dias de procura e o que o monge encontrou foi o descredito na natureza
humana, muito do que se encontra nos livros de história são contos e não
relatos da verdade.
A verdade parecia
estar oculta como o Espírito parece estar oculto neste mundo. Então um livro, o
título “Os Escolhidos”. Sua capa não parecia ser a original. Muito das páginas
tinham sido arrancadas. O monge folheava lentamente tentando saber o que havia
sido retirado. No que havia restado, entendia-se que uma espécie de hierarquia
do sistema brilhante tinha sido designada para comandar um planeta que parecia
estar em outro sistema ou dimensão, o que se relatava era uma outra esfera.
Folha a folha, tinta
a tinta, até que uma das páginas estava completamente colocada uma na outra e
nela um círculo como um anel, no seu centro a estrela brilhante com suas seis
pontas e no meio dela um sol. Em cada ponta um par de nomes totalizando doze.
Na mesma página ao seu lado o mesmo anel em cópia perfeita.
O monge virou a
página para ver o que estava no verso colado e viu o mesmo anel com a mesma
estrela só que nas pontas os nomes não estavam em pares, eram individuais. Seis
nomes estavam de um lado e os outros seis nomes estavam na outra ponta da
estrela. Voltou para olhar a página anterior e reparou que os nomes inscritos
eram os mesmos no primeiro desenho. Os nomes estavam em pares e se repetiam em
frente e verso que parecia o que estava representando os dois desenhos um ao
lado do outro enquanto que na segunda página os mesmos nomes estavam metade na
frente do desenho e a outra metade em nomes individuais estavam no outro
desenho ao lado.
- Doze era um número
místico que tinha uma grande representação; eram doze os filhos de Jacó que,
dos quais se originaram as doze tribos de Israel; o muro de Jerusalém tinha
doze portas; o número dos discípulos de Jesus foram doze; a Arvore da Vida, na
Nova Jerusalém, produzirá doze frutos. E doze vezes doze é o número daqueles
que serão marcados para o Novo Tempo. – disse o monge Miguel silenciosamente
para si mesmo.
Começou então a
pensar como retiraria todas essas informações daquele livro, saiu então do
estase de suas pesquisas e se recordou que podia estar sendo observado. Pegou o
livro nas mãos e ameaçou caminhar, não ouviu nenhum barulho. Se arrancasse as
páginas poderia ser rastreado de alguma forma, pensou então em copiar os
desenhos e assim que devolvesse o livro naquela completa desordem dificilmente
seria localizado. Trazia sempre consigo um lápis e papel no bolso de suas
vestes, copiou os detalhes mais difíceis de serem lembrados, depois completaria
o desenho com suas lembranças.
Monge Miguel
passou o resto da noite completando o desenho em seus aposentos, não largou
mais até que resolveu procurar o Papa sem nenhum tipo de anuncio para não
despertar a atenção de ninguém. No outro dia lá estava o monge discretamente
tentando se aproximar do Pontífice que se encontrava atarefado e mergulhado em
audiências.
O Santo
Padre em um dos seus momentos de distração reparou o monge discretamente
tentando se aproximar daqueles que o cercava. Balançou então a cabeça na
direção do monge como que consentindo que ele se aproximasse.
- Alguma
novidade filho? – sussurrou o Pontífice ao jovem monge e deixando todos
surpreendidos com aquela aproximação.
- Santidade,
o senhor teria um tempinho para conversarmos? – respondeu o jovem acanhado e em
sussurros diante de tantas autoridades.
O Papa pediu
licença para todos referindo-se aquela situação como urgentíssima.
- Em que
posso ajuda-lo filho?
-Santidade,
tenho encontrado referencias em várias obras sobre o símbolo que procuramos,
principalmente naquelas que Napoleão tinha levado para a França, quando da sua
invasão do Vaticano.
- E a que se
refere esse símbolo?
- Ainda não
sei dizer Santidade. Mas concebi a ideia de que ele esta relacionado a um circulo,
uma espiral e até mesmo a um anel.
- Um anel. – repetiu o Papa tentando se
recordar de algo que pudesse desvendar o mistério.
- Vossa
Santidade tem alguma ideia do que pode ser um anel?
- Não filho,
mas sei onde posso procura-lo. Quero que você continue suas pesquisas.
- Santidade,
preciso que o senhor me autorize a fazer buscas dentro dos arquivos secretos da
Biblioteca.
- Achei que
já tinha permitido isso. Vou ratificar com os seus superiores essa autorização.
Você ganhará poderes para acessar qualquer informação e se isso não acontecer
volte a falar comigo.
- Obrigado
Santidade.
- Sou eu
quem lhe agradeço filho.
O monge retirou-se
assim como tinha chegado e antes entregou uma cópia do desenho que tinha feito
do livro encontrado.
O Papa voltou para as suas intermináveis
reuniões. Foi nesse trajeto curto que ele ouviu um comentário rápido que não
saiu do universo de suas ideias:
- Precisamos
reafirmar nossa fé para o mundo. – disse um dos Arcebispos.
O Pontífice
quase respondeu dizendo que realmente era aquilo que ele deveria fazer, pois
preocupado demais com os as forças que dominavam os bastidores do Vaticano não
conseguia olhar para o mundo católico que o cercava.
“Era com
certeza isso que estava dizendo a sua visão que havia tido nos jardins. A gruta
provavelmente seria o próprio Vaticano e sua luz para o mundo enquanto que as
tochas apagadas eram a ausência de fé de seu povo diante de tantas
dificuldades. Era preciso reacender essa energia. Buscar escolher pessoas de
fora daquele lugar que já se encontravam dominadas pelas forças involutivas” –
pensou consigo mesmo o Papa.
Há instantes
que o coração se abre para nossa verdadeira missão.
O Santíssimo
Padre convocou seus assessores e lhes disse que queria visitar sua terra natal.
Ele acreditava que lá poderia estar entre os seus e assim escolher pessoas de
mais confiança para auxiliá-lo. Antes, porém de tudo estar confirmado tinha um
tempo necessário para procurar o símbolo entre as diversas relíquias que se
encontravam no Vaticano.
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