Capitulo 06
O ANTI-PAPA
"É o tempo dos
dois imperadores.
E a Mãe não tem Pai,
Porque muitos são os que querem ser seu pai.
Elevam-se os gritos e as barreiras da contenda,
Mas já das águas sai a Besta."
Papa João XXIII.
A
situação cada vez mais crítica com a invasão do Palácio do Vaticano fez com que o
Papa retomasse maior atenção aos eventos que o cercava e disse ao Chefe da
Guarda:
-
Venha e acompanhe Chefe!– disse o Papa conduzindo o chefe da guarda por uma
porta secreta.
Ainda mesmo que lentamente o Pontífice se colocou por um
caminho na direção da Catedral de São Pedro e o que mais surpreendeu era que
ele seguia na direção das catacumbas. Para o Chefe era um lugar que parecia ser perigoso, pois
se os soldados já estivessem invadido o Vaticano o primeiro local que eles invadiriam com certeza, seriam na Catedral e na Capela Sistina.
Na primeira
oportunidade em que a agenda papal abriu uma brecha, o Pontífice aproveitou
para visitar a Biblioteca Apostólica do Vaticano. Escolheu ir à tardezinha e
apareceu de surpresa. Todos que estavam
presente ficaram estáticos e impressionados com o carisma daquele homem, que
primeiro fez questão de se apresentar e cumprimentar cada clérigo que ali se
mantinham mesmo sendo um final de dia.
Todo aquele
ambiente não era em nada desconhecido do Pontífice. Quando esteve em Roma um
dos lugares mais fascinantes que o então estudante apreciava estar presente era
a Biblioteca do Vaticano. Decorado com lindos afrescos, com a presença de
corredores largos e locais bem iluminados e principalmente onde se podiam ficar
horas sentindo o cheiro de obras manuscritas inimagináveis, era o verdadeiro
paraíso para todos os diversos alunos do mundo.
O saber também
constrói moradas.
Assim que
chegou ao prédio, o Papa foi acompanhado pelo Cardeal e Prefeito da Biblioteca.
Caminharam durante um bom período por entre os quilômetros de prateleiras de
livros.
- Prefeito
preciso de um de seus colabores. – disse o Pontífice ao Prefeito.
- Vossa
Santidade precisa de um arquivista para fazer suas anotações pessoais?
- Não, preciso
do melhor desenhista que o senhor tiver.
- Um
desenhista Santo Padre! – exclamou o Prefeito parando de andar e olhando para o
rosto do Papa não entendendo o seu pedido.
- O senhor
teria alguém capaz de fazer alguns desenhos?
- Vou ter
que verificar Santidade, porque normalmente eles são copistas, restauradores,
arquivistas, estudiosos, etc.
- Entendo
Prefeito, mas, por favor, veja quem tem o melhor dom para fazer alguns
desenhos. Na próxima segunda feira na parte da manhã terei algumas horas
disponíveis para fazer algumas anotações. O senhor então me envie o seu
colaborador.
- Claro
Santidade, enviarei meu melhor desenhista.
O Papa retirou-se
então lentamente da presença do Prefeito e logo foi acompanhado pela comissão
de pessoas que sempre o acompanhava. Foi então jantar e depois dirigiu-se para
o seu escritório. Já era tarde quando dispensou seu secretário particular, e
antes pediu para que ele deixasse sua agenda da semana seguinte, pois gostaria
de saber tudo aquilo que o esperava.
Sentiu um
silencio que desde que tinha assumido suas funções de Líder de sua Igreja não
havia sentido. Mesmo a tranquilidade da noite era invadida pela tagarelice de
seus próprios pensamentos.
As calmarias
normalmente precedem as tempestades.
De repente
as portas da sala onde estava se abriram lentamente.
- Santidade,
precisamos conversar. – disse o homem trajando sua batina negra. Podia-se ver
que não trazia os trinta e três botões frontais e nem mesmo os cinco botões em
cada manga.
O Papa
surpreso com aquela investida não soube dizer não. Enquanto isso o homem se
aproximou lentamente com um sorriso aberto e foi reconhecido, era um dos bispos
de sua Igreja.
- O que
Vossa Excelência Reverendíssima gostaria de tratar? – perguntou o Papa.
- Sobre o
vosso pontificado Santo Padre.
- Por favor,
sente-se. – disse o Papa apontando para a cadeira que estava à frente de sua
mesa.
O Bispo
sentou calmamente e agradeceu pela gentileza.
- Venho
diante de Vossa Santidade como o representante eleito para guiar os pontos mais
burocráticos da administração de nossa Igreja.
- Desculpe,
mas ainda não estou completamente familiarizado com toda a parte
administrativa, Vossa Excelência trabalha na Cúria Romana?
- Romano
Pontífice, trabalho lá e em outros tantos lugares. Prefiro ser mais claro,
Santidade. Assim que terminou o conclave com a vossa escolha, iniciou-se outra
votação que elegeu o meu nome para gerenciar os assuntos administrativos da
igreja.
- Outra
eleição! A escolha de um líder paralelo para a nossa igreja não poderia ser
considerada então a eleição de um antipapa?
- De maneira
alguma Santidade, podemos dizer que o senhor é o Bispo de Roma, nosso Líder
maior. Quanto a minha posição é apenas a de um primeiro ministro.
- O senhor
está querendo dizer que a figura do Vosso Papa é apenas representativa e que
quem realmente administra nossa igreja é Vossa Excelência Reverendíssima?
- É apenas
uma liderança burocrática Santidade.
- E quais
são os vossos planos para nossa Igreja?
- Torná-la a
religião planetária, Romano Pontífice.
- E como
pretende realizar esse evento?
- Através de
um governo mundial.
- Nosso
governo não está apenas no tempo Vossa Excelência Reverendíssima.
- Sim é verdade, mas
está no tempo também Santidade.
- Hoje tive
um dia cansativo, vou me retirar aos meus aposentos. – disse o Papa querendo
encerrar aquelas divergências.
- Tenha uma
boa noite Santo Padre.
O homem
começou a se retirar e em sua saída o Papa proclamou um trecho do evangelho de
São Marcos 4:22 :
"Porque nada há encoberto que não haja de ser manifesto; e nada
se faz para ficar oculto, mas para ser descoberto".
O Bispo voltou-se e sorriu ironicamente em sua retirada.
O Papa nos dias seguintes procurou tomar medidas que
protegeriam suas ordens. Tentou afastar inclusive o bispo que ele agora tinha
certeza ter a força de um governo paralelo dentro da igreja. Pensou até em
formar um novo concílio.
As coisas eram realmente muito mais complicadas do que estava
realmente imaginando, criara-se uma burocracia paralela com pontos por todo o
planeta e era comandada por um poder maior do que as ordens do Sumo Pontífice.
Percebeu logo que na verdade tinha que aprender a lidar com
todas essas estruturas, inclusive porque todo o poder financeiro também estava
sobre essa ordem paralela. Então resolveu consigo mesmo que faria
transformações lentas e persistentes e que não confiaria em ninguém inclusive
porque começou a sentir sua vida ameaçada por seres que andavam nas sombras dos
corredores do Vaticano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário