sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Capitulo 04 - O CONCLAVE



Capitulo 04
O CONCLAVE
                                                                                                                            
             ”Mui Clemente Vigário na Terra de Nosso Senhor, que quis um novo Francisco à sua mesa, porque toda Igreja necessitava ser lavada e purificada; tua tiara será a pobreza e teu manto a humildade... e depois de ti descerá do céu aquele Bendito que selará os tempos e continuará a semeadura no milênio do êxtase do Espírito Santo...”
                                              Monja de Dresden




Podia se ouvir os invasores procurando derrubar as portas do palácio. O respirar do Chefe da Guarda Suíça denunciava o seu desespero e mesmo assim o Papa se mantinha preso as suas recordações.


O destino improvável começou a tomar conta da vida do sacerdote e professor. Ele durante o período em que esteve em Roma como estudante teve também a oportunidade de viver a vida do dia a dia da Sede de sua Igreja.  Os mecanismos que movimentavam toda aquela máquina secular podem ser conhecidos por dentro pelo estudante.
Quando seus estudos terminaram ele foi aconselhado a retornar ao seu país natal, a Igreja estava envolvida com a política no mundo e necessitava que suas forças se espalhassem com fervor por todos os cantos. Nessa fase o padre se tornaria Reitor e começaria a se envolver com a cúpula da Igreja em seu país. Logo seria indicado Bispo da diocese que sempre o acolheu.
O Papa daquele tempo estava chegando ao fim de seu trabalho que por causa de sua intensidade e longevidade se tornou um trabalho solar. Antes que partisse desse mundo aconselhado por aquele que o sucederia nomeou vários Arcebispos pelo mundo e entre eles o ainda jovem bispo.
Ao chegar o tempo do encerramento das atividades do segundo Papa de dois nomes o conclave se reuniu para ratificar aquilo que havia sido dito ao ainda jovem que agora já se tornara Arcebispo. O Prefeito se tornara Papa. Mesmo com idade já avançada ele seria a “glória das oliveiras” porque escolheria se tornar um bendito. Seu papado comparado com o que aconteceria para o seu sucessor seria curto, mas surpreendente.
Durante o papado do Prefeito o arcebispo se tornou pessoa ativa para a Igreja, se tornaria líder de uma das maiores Arquidioceses do planeta e lideraria o maior país católico do mundo e com isso ajudaria a influir na condução dos caminhos de sua Igreja.
Após a sucessão do Olivetano, O Papa Francisco que procurou lavar e puruficar a Igreja com sua mitra de pobreza e seu manto de humildade subiu ao Trono de Pedro. Era o momento de um novo Francisco de Assis, só que os corações dos homens estavam completamente corrompidos para seguir a sua voz. E para ele as profecias de São Malaquias reservaria o dístico: “Governará durante extrema perseguição da Santa Igreja Romana.”
E foi consciente do que estava enfrentando que o Papa Francisco convocou de maneira informal um dos seus Cardeais.  O conhecia de terras vizinhas e sabia que ele seria um forte candidato para ocupar o seu lugar.
- Sua Santidade. – exclamou o Arcebispo se ajoelhando e beijando a mão do Papa.
- Fique a vontade meu Arcebispo. Pedi a vossa presença, porque estou preocupado com minha sucessão.
- Como assim Sua Santidade.
- Sinto minhas forças se esvaírem e tenho consultado meus assessores sobre quem poderia ocupar o Trono de Pedro e Vossa Excelência Reverendíssima tem grandes possibilidades de ser eleito no próximo conclave.
- Bondade, Santíssimo Padre, daqueles que vos cercam.
 - Seja como for a escolha de Deus, gostaria que estivesse consciente de tudo que vem acontecendo e como você pode se preparar para assumir sua missão.
O Papa então levou seu Cardeal ao escritório principal e durante horas conversaram sobre política, sobre as finanças e principalmente sobre os desafios de fé pelos quais a sua Igreja viveria num futuro próximo, pois gostaria que ele continuasse seu trabalho de renovação da Santa Sé. Terminada a reunião ficara de alguma forma um ar de despedida. O que realmente aconteceria é que na próxima vez em que o cardeal veria o Papa não poderia mais trocar nenhuma palavra.
De onde viria o Destino? De hoje, de ontem, de amanhã, de onde não sei, talvez do Sempre?
Não passou muito tempo e o Cardeal recebeu em seu país a notícia que o seu líder maior tinha deixado vago o seu trono e assim o maior conclave da história se reuniria para eleger uma nova liderança.
Ao pousar com urgência em Roma, o Cardeal se dirigiu ao Vaticano e o mesmo já se encontrava vacante. O Camerlengo já havia tomado as suas funções. Ele era o responsável oficial da Igreja para o período em que o Trono de Pedro estaria vago.
Durante vários dias os cardeais que tinham direito ao voto foram se dirigindo ao Vaticano para iniciarem o conclave. E foi num desses dias que o Cardeal teve um outro contato inusitado. Um cardeal muito próximo e seu contemporâneo o chamou para conversar após um dos jantares no Vaticano.
- Vossa Eminência poderá ser indicada pelo grupo dos spiritualis como candidato ao Trono de Pedro. – disse aquele que era um dos cardeais mais velhos do conclave.
- Indicado pelos spiritualis Eminencia! Não estou entendendo, quem são eles e porque me indicariam?
- Está ocorrendo uma grande luta interna em nossa Igreja. Duas forças lutam para acenderem ao Trono de Pedro. De um lado os spiritualis, que se julgam filhos do sol e são uma corrente que preferem que a Igreja se mantenha distante do poder temporal e do outro lado, os iluminatis que se julgam filhos das estrelas e que acreditam que a Igreja deve retomar o poder temporal.
O jovem Arcebispo então se recordou dos amuletos do sol que vinham revelando-se a ele desde que se tornara sacerdote.
- Ainda não entendi porque iriam me indicar!
- Provavelmente o Conclave será uma disputa acirrada e Vossa Eminencia será indicada como uma espécie de terceira via. – falou o velho Cardeal.
- Prepare-se para escolher o vosso nome como Papa, pois as possibilidades de ser eleito para ocupar o Trono de Pedro são muito grandes e o vosso destino está vinculado a escolha de seu nome como líder de nossa Igreja.
- Estamos falando do nome sucessório?
- Sim. – disse o velho Cardeal com a certeza plena do que estava sendo dito e continuou – Vossa Eminência poderá escolher ser o terceiro de nome composto, ou quem sabe uma das sucessões de nome simples, ou ainda se tornar o segundo do primeiro de todos. E tenha consciência de que ao escolher o vosso nome estará selando o seu futuro e o futuro do nosso tempo.
- Ainda não estou entendo Eminência.
Então outros Cardeais se aproximaram e a conversa foi interrompida. A sucessão Papal estava fervilhando pelos corredores e as diversas forças degladiavam pelos bastidores.
O Cardeal nunca tinha se preocupado com os movimentos políticos e diante de tudo aquilo se sentia um ingênuo. Sempre se dedicou à sua fé, aos seus estudos e sobre tudo, a dedicação às pessoas que sempre estiveram ao seu redor.
Após o décimo quinto dia a Capela Sistina tornou-se purpura. Uma missa oficial deu início ao evento e o que se pedia era que o Espirito Santo guiasse a decisão de cada Cardeal.
Terminada a liturgia duas mesas tornaram-se o ponto central da Capela Sistina, uma reservada aos três Cardeais escrutinadores que ainda seriam escolhidos por sorteio, e a outra coberta com o pano também de cor purpura com três vasos de vidro transparente e uma bandeja de prata.
- “Extra omnes”. – pronunciou o Cardeal Camerlengo.
Todos os cardeais se colocaram nos locais previamente nomeados e todas as outras pessoas começaram a se retirar da Capela que foi fechada a “sete chaves”.
Depois da escolha dos Cardeais escrutinadores responsáveis por verificar e contar os votos, foram sorteados outros três Cardeais infirmarii responsáveis esses por recolher os votos dos Cardeais que por ventura adoecerem e não puderem comparecer ao Conclave. Para o ultimo sorteio, enfim, foram retirados mais três nomes dos três vasos de vidro para os Cardeais revisores, esses responsáveis por fiscalizarem as atividades dos Cardeais escrutinadores.
Iniciou-se definitivamente a votação. Primeiro dirigiram-se às mesas os Cardeais mais idosos.
O agora possível Cardeal indicado dos spiritualis recebeu seu papel branco de forma retangular, nele escrito na parte superior “Eligo in summun pontificem” (Elejo como Sumo Pontífice) e fazendo sua oração votou em seu amigo Cardeal mais experiente. Dirigiu-se então às mesas colocando seu voto sobre a bacia de prata e assim a levou para depósito no primeiro vaso.
Depois que todos os cardeais depositaram os seus votos, o primeiro escrutinador pegou o vaso de vidro em suas mãos o balançou e o levou para a mesa dos escrutinadores. Pegou o primeiro voto, anotou o nome do votado e o passou para o segundo escrutinador que também anotou e passou o voto para o terceiro escrutinador que pronunciou em voz alta e inteligível o nome do votado e depois depositou no segundo vaso.
Quando se encerrou a apuração dos votos o terceiro escrutinador costurou todos com um furo perfurando a palavra “eligio” e depositou o maço no terceiro vaso. Então os Cardeais revisores se dirigiram à mesa de escrutíneo e conferiram a quantidade de votos.
Estava encerrada a votação e nenhum dos Cardeais tinha conseguido a quantidade de votos necessários para a sua eleição. O então possível Cardeal dos spiritualis não tinha se quer conseguido estar entre os dois primeiros. Não se surpreendeu, pois não se considerava realmente um favorito para o pleito, imaginava que se um dia realmente pudesse assumir o Trono de Pedro como tinham lhe dito. Talvez acontecesse em um outro conclave.
As votações começaram a se suceder sem que se chegasse a uma conclusão final e o ritual continuou a ser cumprido. Após cada uma delas o Camerlengo recolheu as anotações feitas por todos os Cardeais que juntamente com todos os votos foram colocadas numa caixa e conduzidas para o fogão onde tudo é queimado junto com outro elemento que faria surgir a fumaça preta que sai pela chaminé da Capela Sistina.
As votações geraram uma polarização entre dois Cardeais que por sua terminaram num impasse.
O Destino convive perfeitamente com o improvável.
O cansaço e o desgaste fizeram com que o Conclave buscasse através de seus membros uma terceira via. O acordo foi firmado pelos corredores e assim surgiu o nome do Cardeal indicado pelos spiritualis, que repentinamente conquista a eleição.
- Reverendo Cardeal, aceita a sua eleição canônica como Sumo Pontífice? – proclamou o Cardeal Diácono em nome de todo o Colégio de eleitores.
- Aceito em nome do Senhor! – respondeu o Cardeal dos spiritualis sentindo um tremor interior.
- Como quer que o chamemos? – continuou o Cardeal Diácono.
O Cardeal dos spiritualis recordou-se de seu velho amigo Cardeal, a quem provavelmente deveria a sua escolha como Pontífice e que à poucos dias  tinha pedido para escolher o seu nome como Papa e que essa escolha seria determinante para o seu destino.
Tudo ficou em silêncio a espera de seu definitivo pronunciamento. O Papa se encontrava em pleno êxtase espiritual vivendo claramente dentro de si as imagens de sua lembrança desde o primeiro dia em que ainda garoto deu seus primeiros passos na direção do seminário.
 O Cardeal dos spiritualis pronunciou então a sua escolha. Não ousou se denominar o segundo do primeiro de todos, porém o destino o tornaria.
O Destino se cumpriu e o agora Papa recebe por parte de todos os Cardeais o ato de obediência. Através de uma fila se ajoelhavam aos pés do novo líder.
A fumaça branca sai pela chaminé da Capela Sistina anunciando aos fiéis o fim do conclave.
O Diácono se dirige à varanda da Basílica de São Pedro e anuncia a boa nova:
- “Annuntio vobis gaudium magnum!” (Anuncio-vos com a maior alegria!) - e completou num tom de solenidade –  “Habemus Papam”. (Temos Papa.)





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