Capitulo 04
O CONCLAVE
”Mui Clemente
Vigário na Terra de Nosso Senhor, que quis um novo Francisco à sua mesa, porque
toda Igreja necessitava ser lavada e purificada; tua tiara será a pobreza e teu
manto a humildade... e depois de ti descerá do céu aquele Bendito que selará os
tempos e continuará a semeadura no milênio do êxtase do Espírito Santo...”
Monja de
Dresden
Podia se ouvir os invasores procurando derrubar
as portas do palácio. O respirar do Chefe da Guarda Suíça denunciava o seu
desespero e mesmo assim o Papa se mantinha preso as suas recordações.
O destino improvável começou a
tomar conta da vida do sacerdote e professor. Ele durante o período em que
esteve em Roma como estudante teve também a oportunidade de viver a vida do dia
a dia da Sede de sua Igreja. Os
mecanismos que movimentavam toda aquela máquina secular podem ser conhecidos
por dentro pelo estudante.
Quando seus estudos terminaram
ele foi aconselhado a retornar ao seu país natal, a Igreja estava envolvida com
a política no mundo e necessitava que suas forças se espalhassem com fervor por
todos os cantos. Nessa fase o padre se tornaria Reitor e começaria a se
envolver com a cúpula da Igreja em seu país. Logo seria indicado Bispo da
diocese que sempre o acolheu.
O Papa daquele tempo estava chegando
ao fim de seu trabalho que por causa de sua intensidade e longevidade se tornou
um trabalho solar. Antes que partisse desse mundo aconselhado por aquele que o
sucederia nomeou vários Arcebispos pelo mundo e entre eles o ainda jovem bispo.
Ao chegar o tempo do
encerramento das atividades do segundo Papa de dois nomes o conclave se reuniu
para ratificar aquilo que havia sido dito ao ainda jovem que agora já se
tornara Arcebispo. O Prefeito se tornara Papa. Mesmo com idade já avançada ele
seria a “glória das oliveiras” porque escolheria se tornar um bendito. Seu
papado comparado com o que aconteceria para o seu sucessor seria curto, mas surpreendente.
Durante o papado do Prefeito o
arcebispo se tornou pessoa ativa para a Igreja, se tornaria líder de uma das
maiores Arquidioceses do planeta e lideraria o maior país católico do mundo e com
isso ajudaria a influir na condução dos caminhos de sua Igreja.
Após a sucessão do Olivetano, O
Papa Francisco que procurou lavar e puruficar a Igreja com sua mitra de pobreza
e seu manto de humildade subiu ao Trono de Pedro. Era o momento de um novo
Francisco de Assis, só que os corações dos homens estavam completamente corrompidos
para seguir a sua voz. E para ele as profecias de São Malaquias reservaria o dístico:
“Governará durante extrema perseguição da Santa Igreja Romana.”
E foi consciente do que estava
enfrentando que o Papa Francisco convocou de maneira informal um dos seus Cardeais. O conhecia de terras vizinhas e sabia que ele
seria um forte candidato para ocupar o seu lugar.
- Sua Santidade. – exclamou o Arcebispo
se ajoelhando e beijando a mão do Papa.
- Fique a vontade meu Arcebispo.
Pedi a vossa presença, porque estou preocupado com minha sucessão.
- Como assim Sua Santidade.
- Sinto minhas forças se
esvaírem e tenho consultado meus assessores sobre quem poderia ocupar o Trono
de Pedro e Vossa Excelência Reverendíssima tem grandes possibilidades de ser
eleito no próximo conclave.
- Bondade, Santíssimo Padre,
daqueles que vos cercam.
- Seja como for a escolha de Deus, gostaria
que estivesse consciente de tudo que vem acontecendo e como você pode se preparar
para assumir sua missão.
O Papa então levou seu Cardeal ao
escritório principal e durante horas conversaram sobre política, sobre as
finanças e principalmente sobre os desafios de fé pelos quais a sua Igreja
viveria num futuro próximo, pois gostaria que ele continuasse seu trabalho de
renovação da Santa Sé. Terminada a reunião ficara de alguma forma um ar de
despedida. O que realmente aconteceria é que na próxima vez em que o cardeal
veria o Papa não poderia mais trocar nenhuma palavra.
De onde viria o Destino? De
hoje, de ontem, de amanhã, de onde não sei, talvez do Sempre?
Não passou muito tempo e o Cardeal
recebeu em seu país a notícia que o seu líder maior tinha deixado vago o seu
trono e assim o maior conclave da história se reuniria para eleger uma nova
liderança.
Ao pousar com urgência em Roma,
o Cardeal se dirigiu ao Vaticano e o mesmo já se encontrava vacante. O
Camerlengo já havia tomado as suas funções. Ele era o responsável oficial da Igreja
para o período em que o Trono de Pedro estaria vago.
Durante vários dias os cardeais
que tinham direito ao voto foram se dirigindo ao Vaticano para iniciarem o
conclave. E foi num desses dias que o Cardeal teve um outro contato inusitado.
Um cardeal muito próximo e seu contemporâneo o chamou para conversar após um
dos jantares no Vaticano.
- Vossa Eminência poderá ser
indicada pelo grupo dos spiritualis como candidato ao Trono de Pedro. – disse
aquele que era um dos cardeais mais velhos do conclave.
- Indicado pelos spiritualis
Eminencia! Não estou entendendo, quem são eles e porque me indicariam?
- Está ocorrendo uma grande luta
interna em nossa Igreja. Duas forças lutam para acenderem ao Trono de Pedro. De
um lado os spiritualis, que se julgam filhos do sol e são uma corrente que
preferem que a Igreja se mantenha distante do poder temporal e do outro lado,
os iluminatis que se julgam filhos das estrelas e que acreditam que a Igreja
deve retomar o poder temporal.
O jovem Arcebispo então se
recordou dos amuletos do sol que vinham revelando-se a ele desde que se tornara
sacerdote.
- Ainda não entendi porque iriam
me indicar!
- Provavelmente o Conclave será
uma disputa acirrada e Vossa Eminencia será indicada como uma espécie de
terceira via. – falou o velho Cardeal.
- Prepare-se para escolher o
vosso nome como Papa, pois as possibilidades de ser eleito para ocupar o Trono
de Pedro são muito grandes e o vosso destino está vinculado a escolha de seu
nome como líder de nossa Igreja.
- Estamos falando do nome
sucessório?
- Sim. – disse o velho Cardeal
com a certeza plena do que estava sendo dito e continuou – Vossa Eminência
poderá escolher ser o terceiro de nome composto, ou quem sabe uma das sucessões
de nome simples, ou ainda se tornar o segundo do primeiro de todos. E tenha
consciência de que ao escolher o vosso nome estará selando o seu futuro e o
futuro do nosso tempo.
- Ainda não estou entendo Eminência.
Então outros Cardeais se
aproximaram e a conversa foi interrompida. A sucessão Papal estava fervilhando
pelos corredores e as diversas forças degladiavam pelos bastidores.
O Cardeal nunca tinha se
preocupado com os movimentos políticos e diante de tudo aquilo se sentia um
ingênuo. Sempre se dedicou à sua fé, aos seus estudos e sobre tudo, a dedicação
às pessoas que sempre estiveram ao seu redor.
Após o décimo quinto dia a
Capela Sistina tornou-se purpura. Uma missa oficial deu início ao evento e o
que se pedia era que o Espirito Santo guiasse a decisão de cada Cardeal.
Terminada a liturgia duas mesas
tornaram-se o ponto central da Capela Sistina, uma reservada aos três Cardeais
escrutinadores que ainda seriam escolhidos por sorteio, e a outra coberta com o
pano também de cor purpura com três vasos de vidro transparente e uma bandeja
de prata.
- “Extra omnes”. – pronunciou o
Cardeal Camerlengo.
Todos os cardeais se colocaram
nos locais previamente nomeados e todas as outras pessoas começaram a se
retirar da Capela que foi fechada a “sete chaves”.
Depois da escolha dos Cardeais
escrutinadores responsáveis por verificar e contar os votos, foram sorteados
outros três Cardeais infirmarii responsáveis esses por recolher os votos dos
Cardeais que por ventura adoecerem e não puderem comparecer ao Conclave. Para o
ultimo sorteio, enfim, foram retirados mais três nomes dos três vasos de vidro
para os Cardeais revisores, esses responsáveis por fiscalizarem as atividades
dos Cardeais escrutinadores.
Iniciou-se definitivamente a
votação. Primeiro dirigiram-se às mesas os Cardeais mais idosos.
O agora possível Cardeal indicado
dos spiritualis recebeu seu papel branco de forma retangular, nele escrito na
parte superior “Eligo in summun pontificem” (Elejo como Sumo Pontífice) e
fazendo sua oração votou em seu amigo Cardeal mais experiente. Dirigiu-se então
às mesas colocando seu voto sobre a bacia de prata e assim a levou para depósito
no primeiro vaso.
Depois que todos os cardeais depositaram
os seus votos, o primeiro escrutinador pegou o vaso de vidro em suas mãos o
balançou e o levou para a mesa dos escrutinadores. Pegou o primeiro voto,
anotou o nome do votado e o passou para o segundo escrutinador que também
anotou e passou o voto para o terceiro escrutinador que pronunciou em voz alta
e inteligível o nome do votado e depois depositou no segundo vaso.
Quando se encerrou a apuração
dos votos o terceiro escrutinador costurou todos com um furo perfurando a
palavra “eligio” e depositou o maço no terceiro vaso. Então os Cardeais
revisores se dirigiram à mesa de escrutíneo e conferiram a quantidade de votos.
Estava encerrada a votação e
nenhum dos Cardeais tinha conseguido a quantidade de votos necessários para a
sua eleição. O então possível Cardeal dos spiritualis não tinha se quer
conseguido estar entre os dois primeiros. Não se surpreendeu, pois não se
considerava realmente um favorito para o pleito, imaginava que se um dia realmente
pudesse assumir o Trono de Pedro como tinham lhe dito. Talvez acontecesse em um
outro conclave.
As votações começaram a se
suceder sem que se chegasse a uma conclusão final e o ritual continuou a ser
cumprido. Após cada uma delas o Camerlengo recolheu as anotações feitas por
todos os Cardeais que juntamente com todos os votos foram colocadas numa caixa e
conduzidas para o fogão onde tudo é queimado junto com outro elemento que faria
surgir a fumaça preta que sai pela chaminé da Capela Sistina.
As votações geraram uma
polarização entre dois Cardeais que por sua terminaram num impasse.
O Destino convive perfeitamente
com o improvável.
O cansaço e o desgaste fizeram
com que o Conclave buscasse através de seus membros uma terceira via. O acordo
foi firmado pelos corredores e assim surgiu o nome do Cardeal indicado pelos
spiritualis, que repentinamente conquista a eleição.
- Reverendo Cardeal, aceita a sua
eleição canônica como Sumo Pontífice? – proclamou o Cardeal Diácono em nome de
todo o Colégio de eleitores.
- Aceito em nome do Senhor! –
respondeu o Cardeal dos spiritualis sentindo um tremor interior.
- Como quer que o chamemos? –
continuou o Cardeal Diácono.
O Cardeal dos spiritualis
recordou-se de seu velho amigo Cardeal, a quem provavelmente deveria a sua
escolha como Pontífice e que à poucos dias
tinha pedido para escolher o seu nome como Papa e que essa escolha seria
determinante para o seu destino.
Tudo ficou em silêncio a espera
de seu definitivo pronunciamento. O Papa se encontrava em pleno êxtase
espiritual vivendo claramente dentro de si as imagens de sua lembrança desde o
primeiro dia em que ainda garoto deu seus primeiros passos na direção do
seminário.
O Cardeal dos spiritualis pronunciou então a
sua escolha. Não ousou se denominar o segundo do primeiro de todos, porém o
destino o tornaria.
O Destino se cumpriu e o agora
Papa recebe por parte de todos os Cardeais o ato de obediência. Através de uma
fila se ajoelhavam aos pés do novo líder.
A fumaça branca sai pela chaminé
da Capela Sistina anunciando aos fiéis o fim do conclave.
O Diácono se dirige à varanda da
Basílica de São Pedro e anuncia a boa nova:
- “Annuntio vobis gaudium
magnum!” (Anuncio-vos com a maior alegria!) - e completou num tom de solenidade
– “Habemus Papam”. (Temos Papa.)
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