terça-feira, 5 de março de 2013

Capítulo 19 - O PIEDOSO


Capitulo 19
O Piedoso
                                                                                                                            

              

O dia do Senhor virá como um ladrão. Os céus acabarão com grande estrondo, os elementos em chamas de dissolverão, e a terra será conhecida em suas obras. Pois, se tudo vai desintegrar-se desta maneira, não deveis perseverar em vossa santa conduta e em vossa piedade, esperando ansiosamente a chegada do dia de Deus, quando os céus em fogo se dissolverem e os elementos em chamas derreterem?
                                                           São Pedro, Apóstolo.



Naquele mesmo instante o semblante do chefe da guarda brilhou. O fascínio do dourado da pedra não brilhava apenas os rostos e sim toda a sala mostrando uma luz resplandecente. O Santo Padre então aguardou acontecer o que já conhecia. O centro da sala sem a pedra de mármore que na verdade era uma espécie de tampa, se ergueria automaticamente e a relíquia se apresentaria como se estivesse desabrochando.
A pedra tinha o tamanho de um ovo de avestruz, lapidada de forma hexagonal se encaixava numa espécie de casa e quando o Papa a retirou o Chefe da Guarda percebeu que ela possuía três faixas desenhadas em formato de xis que transpassavam dos dois lados da joia.
Mais uma vez o Pontífice surpreendeu e retirou de seu habituario um saco de feltro e envolveu o que ele denominava de o “Grande Sétimo”.


Os países estavam entrando em período de profundo conflito. Tempos críticos se alastravam por todos os cantos do mundo. A riqueza superficial estava sendo corroída em sua essência corrompida. A busca de se unir o globo num grande mercado foi esvaziada pelos embates do próprio sistema. Homens ensandecidos começaram a tomar o poder de suas nações e as terras pareciam querer implodir. A natureza parecia acompanhar o humor humano e vivia tempos escabrosos. Tempestades, furacões, terremotos, estiagens tornaram-se eventos corriqueiros. O Santo Padre diante dessas tantas dificuldades estava sendo chamado a todo instante para acalmar os conflitos e principalmente apascentar os seus fiéis espalhados pela superfície da Terra.
Foram nesses dias que o Sumo Pontífice enfrentou uma grande perda para o seu Pontificado, o velho bispo aquele que tanto o aconselhou e que depois ficou sabendo ser o responsável direto por sua eleição como Papa estava no leito de morte à espera da benção dele. O Papa então mesmo na tribulação conseguiu uma maneira de ir ao encontro daquele que se tornara um de seus confidentes espirituais.
O que é a morte se não um recomeço diante da verdadeira Vida?
A dificuldade de locomoção para o Papa era uma das coisas que mais o incomodava. Recordava-se de quando podia sair discretamente em visita a seus amigos e parentes em qualquer lugar. Isso porque para uma visita a um amigo que estava num leito do hospital precisava-se de um aparato digno de uma visita oficial de Estado.
Ao ver aquele homem coberto por um lençol branco deitado como se nunca mais pudesse se levantar, com o rosto em flagelos como em uma pintura abstrata e respirando apenas o ar distante de sua existência humana o Santo Padre encheu-se de misericórdia por todos os seres existentes. Aproximou-se lentamente e pegando nas mãos do Bispo inundou seus olhos de lágrimas e seu coração de compaixão.
O bispo percebeu a presença daquele homem que sempre mantinha-se em tranquilidade ao redor de todos  e procurou devolver seus olhos que já estavam em outro mundo a este. Apertando as mãos do Santo Padre como quando se segura um inestimável pertence o velho homem sussurrou algo incompreensível.
O Santo Padre sempre generoso percebendo a dificuldade de seu Bispo baixou a sua cabeça e pôs seus ouvidos próximos da boca do enfermo para que ele repetisse aquele murmúrio.
- Me perdoe Santidade. – suplicou o velho Bispo com todos os esforços possíveis.
O Papa então imaginando que seu conselheiro estivesse pedindo uma unção para sua passagem nesta vida e assim ergueu sua mão direita e abençoou o enfermo o liberando de todos os seus pecados. Surpreendentemente o Bispo novamente sussurrou outras palavras e o Santo Padre novamente aproximou seu rosto do velho homem.
- Pequei contra Vossa Santidade. – sussurrou o Bispo já tentando erguer sua cabeça para ser melhor compreendido.
- Vossos pescados estão perdoados meu velho amigo. – respondeu o Papa levando seus lábios aos ouvidos do Bispo.
- Tu és realmente o Piedoso, sua bondade o fez sentar-se ao Trono de Pedro. – começou a falar lentamente o Bispo nos ouvidos do Papa
O Santo Sacerdote lembrou-se então das palavras de São Pedro em sua Epístola, Capítulo 03, 10-13 e as pronunciou ao Bispo:
“O dia do Senhor virá como um ladrão. Os céus acabarão com grande estrondo, os elementos em chamas se dissolverão, e a terra será conhecida em suas obras. Pois, se tudo vai desintegrar-se desta maneira, não deveis perseverar em vossa santa conduta e em vossa piedade...?”
Perdoe-me de todo o vosso coração porque o traí. – disse o Bispo tentando virar o rosto e olhar aos olhos do Papa que agora sim procurou entender o que seu conselheiro estava querendo lhe dizer.
- Eles queriam manipular o vosso Pontificado e de certa forma eu os ajudei. Acreditávamos que porque estava sempre sorrindo seria um fraco diante das primeiras dificuldades que enfrentasse e assim tomariam o poder da igreja facilmente estando em vossas mãos.
- Quem são eles, conselheiro? – perguntou o Papa agora olhando diretamente ao rosto do Bispo.
- Por favor, Santidade – sussurrou o bispo como se fossem as suas últimas palavras – perdoe-me por ter traído a vossa confiança. –
- Que Deus perdoe os vossos pecados meu amigo e conselheiro. – anunciou o Papa olhando para os olhos do bispo marejados de lágrimas que correram por seu rosto, que sentindo a mão daquele homem apertar a sua como num grande abraço.
Foram as últimas palavras de seu conselheiro, aqueles olhos safirizados tinham encerrado sua visão deste mundo. O Papa sabia que podia confiar em poucas pessoas, só que aquele seu companheiro de quem pediu tantos conselhos e a quem confidenciou muitas de suas dúvidas era um dos poucos em que ele acreditava poder confiar.
O chefe da guarda que estava na porta do quarto correu para chamar as enfermeiras que estavam no corredor de plantão. Realmente já era tarde. O bispo tinha se retirado de nosso mundo físico em busca do perdão a si mesmo pela eternidade.
Quanto ao Sumo Pontífice parecia ter tomado um golpe em suas próprias costas e o pior de tudo sairia daquele hospital sem respostas sobre quem seriam seus verdadeiros opositores. Com esses anos de pontificado já podia apontar para alguns daqueles que estariam tentando de alguma forma manipulá-lo. Entendia que as duas correntes, os Spiritualis e os Iluminatis estavam se degladiando e cedo ou tarde iriam expor suas feridas O que realmente o preocupava era que provavelmente algum tipo de força externa ao Vaticano pudesse estar comandando alguma das duas correntes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário