sexta-feira, 22 de março de 2013

Capítulo 34 - A COR DO LEITE E DO SOL


Capitulo 34
A Cor do Leite e do Sol                                                                                                                                            
                                                                         
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                O caminho está tomado pela noite. Os ombros do homem são cândidos como pombos. Da terra batida por mil gerações surge “o filho do mal”. Será ele o arauto do Príncipe Negro. Será ele que abalará a oliveira. Chegou o momento da pestilência. Nos céus aparecerá o arcanjo, mas será o “filho do mal”. Nos céus aparecerá a luz, mas será o Príncipe Negro. Lábaros verdes tremularão ao vento e a faca de Caim será limpa na bandeira que terá a cor do leite e do sol.
                                                           Aranha Negra.             


                                                                                 

Assim que terminou o pedido do filho do mal, o falso profeta, aquele que estava por trás de todas as dificuldades que a Santa Igreja vinha enfrentando, retirou da mala preta que ele trazia todos os símbolos que preencheriam a seis portas da Sala Sagrada.
O falso profeta pegou uma a uma as relíquias que eram verdadeiras joias forjadas em puro ouro. Colocou-as nas formas que estavam encravadas na porta e toda a sala de alguma forma começou a se tornar dourada.
O filho do mal arrancou a força os anéis que trazia o Papa com ele, e com as joias abriu facilmente o relicário que ficava no chão da Sala Sagrada e para mais surpresa ainda colocou o Grande Sétimo em seu devido lugar sem a menor dificuldade.
A Besta pretendia cumprir o que vinha dizendo aos seus fiéis: “No fim de minha guerra ascenderei aos céus.”


Ao chegar ao Vaticano depois de horas de voo, o Pontífice foi recebido por uma comitiva de péssimas notícias. Na primeira, foi informado por seus assessores de que o anticristo estava invadindo a Europa pela entrada mais antiga do oriente: a Turquia. A segunda e provavelmente ainda pior que a primeira, foi a notícia dada pelos astrônomos do Vaticano: os céus por onde nosso sistema solar atravessava estava prestes a cair sobre a cabeça dos homens.
- Parece que estamos agora no olho do furacão não é mesmo Secretário? – falou o Papa numa conversa particular com seu novo braço-direito.
- Não imaginei que teríamos tantos problemas assim mesmo antes de chegarmos.
- Você ainda pode escolher outra missão Eminência. – disse o Papa sorrindo e olhando para o seu Arcebispo querendo ver a sua reação.
- Já escolhi meu destino, Santidade. – disse o Arcebispo Secretário de Estado retribuindo a resposta também com um sorriso.
As nações tinham se deixado envolver pela astúcia da Besta, agora a sua guerra invadira o mundo sem que ninguém pudesse combater a sua perversidade. Como serpentes suas forças invadiram toda a terra e vinha destruindo principalmente as cidades, que frágeis não conseguiam mais se defender. Poucos lugares do planeta conseguiam escapar dessas atrocidades.
A guerra das guerras encontrava-se em pleno curso.
A Besta agora se manifestara plenamente e claro que em si trazia apenas meia humanidade.
Toda a Europa se uniu para enfrentar a fera que batia a suas portas. Em vão, os novos aliados da Besta eram imensamente maiores e já tinham tomado boa parte do planeta com seus projetos malignos.
O Santo Padre então convocou os cristãos para uma grande oração na Praça de São Pedro. No dia marcado o medo se tornou maior que a fé. A maioria da população da metrópole romana começou a se deslocar para fora da cidade com medo da iminente invasão daquele exército tomado de vermelho de sangue.
Naquele dia ainda nas primeiras horas o Santo Padre acordou preocupado e antes que qualquer pensamento tocasse sua mente ele se levantou ainda de madrugada sentindo uma enorme necessidade de orar. Sem nem mesmo colocar suas vestes papais saiu lentamente pelos corredores na direção da sua capela particular.
Ajoelhou-se diante do altar, abriu o Livro Sagrado e leu para sua alma o Salmo 05:
‘Presta ouvido, Senhor, ás minhas palavras, atende ao meu gemido! Escuta meu grito de socorro, ó meu Rei e meu Deus, pois é a ti que suplico: Senhor, de manhã ouves a minha voz, de manhã dirijo-me a ti e espero. Porque tu, ó Deus, não toleras o mal, o perverso não pode acolher-se em ti, nem os arrogantes manter-se diante do teu olhar. Detestas todos os malfeitores, destróis os mentirosos. Ao homem sanguinário e fraudulento o Senhor abomina. Mas eu, graças ao seu grande amor, entrarei em tua casa, vou prostrar-me para teu templo santo, em reverência para comigo. Guia-me, Senhor, em tua justiça, por causa dos meus adversários; aplana diante de mim teu caminho! Porque em sua boca não há sinceridade, seu interior é corrupção; sua garganta, um sepulcro aberto; sua língua, lisonja. Ó Deus, faze-os pagar! Caiam eles nas suas próprias tramas! Expulsa-os por causa de suas muitas transgressões, porque se rebelam contra ti. Alegram-se os que em ti buscam refúgio, exultem para sempre! Protege-os, para que rejubilem em ti os que amam teu nome! Pois tu, Senhor, abençoas o justo e, como escudo, o cercas de tua benevolência.
Naquele instante sua alma sentiu o tocar de seu destino.
O Papa se ergueu de sua postura de joelhos e voltou lentamente ao seu quarto. Os pássaros anunciavam o começo do dia e ao longe se ouvia o som da guerra tocar a terra como os trovões tocam o solo em uma tempestade.
Passaram-se poucos minutos e a porta do quarto sofreu um chamado:
- Santidade, Santidade. – falava a voz desesperada de seu mordomo sem saber que o Santo Padre já estava acordado a um bom tempo e continuou falando - estamos a beira de sermos invadidos pelas tropas vermelhas, nossas bandeiras estão sendo arrancadas de seus mastros.
O Pontífice abriu a porta tranquilamente num estado profundamente angelical. Sabia que estava chegando a sua hora.
- Fique tranquilo amigo, vamos superar mais essa crise.
- Mas Santidade, precisamos nos refugiar em outro lugar. – continuou o mordomo que agora tinha a companhia de seu novo secretário.
- Escutem o que tenho para dizer. Quero que vocês três acompanhem todos os religiosos e procurem se proteger pelas casas da redondeza, para que quando a Besta chegar ao Vaticano tudo esteja aparentemente abandonado.
- Santidade, vamos ficar juntos até o fim. - disse o novo Secretário Geral.
- Isso é uma instrução amigo secretário, não um pedido. Quero também que apenas o Chefe da Guarda Suíça acompanhe-me nessa minha última missão.
Todos sentiram as palavras envoltas em autoridade e correram para avisar o Chefe da Guarda que já se encontrava nos corredores para ficar a disposição do Santo Padre.
Enquanto isso o Pontífice passou por seus livros particulares e pegando um deles se dirigiu a janela de onde podia olhar para o horizonte. Os céus também já tinham sido invadidos pelo “filho do mal”. Pôs-se mesmo assim a ler um poema de RabindranathTagore  que falava para sua própria alma:

‘Os negros demônios do mundo inundaram as colinas.
A postos, remadores, com a benção da dor em suas almas!
Quem vocês culpam, irmãos?
Verguem suas cabeças!
Os pecados são seus e nossos.
A cólera crescendo há tempos no coração de Deus.
- A covardia do fraco, a arrogância do forte, a cobiça da prosperidade gorda, o rancor do perverso, vaidade da raça e insulto do homem –
Explodiu a paz divina, agitando a tempestade.


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