quinta-feira, 28 de março de 2013

Capítulo 39 - O PAPA DO FIM DOS TEMPOS


Capítulo 39
O PAPA DO FIM DOS TEMPOS


                                   “Vi um dos meus sucessores de nome igual, fugindo entre cadáveres de seus irmãos. Refugiar-se-á incógnito, em alguma parte, e depois de um breve descanso, morrerá de morte cruel.”
                                                                                          Papa Pio X
 


O Santo Padre e o monge ficaram então aguardando a volta do Chefe da Guarda. Depois de alguns minutos ele estava de volta.
- Vocês me ouvem? – perguntou o Chefe da Guarda da abertura do teto.
- Sim. – respondeu o monge.
- Vocês não vão acreditar. O corredor nos leva para fora dessas catacumbas.
Todos sorriram de alegria.
O trabalho agora era tentar fazer os dois homens que estavam abaixo passarem pela abertura da claraboia e levar também as relíquias que os acompanhava.
Após algum tempo com muito sacrifício os três homens estavam em um novo túnel, no entanto agora estavam a caminho de uma saída daqueles mundos escuros e apertados. O destino, portanto era enfrentarem o desafio final.
Assim que chegaram à claridade precisaram de um tempo para se adaptar. Depois disso surgiram as perguntas e monge Miguel foi logo se apressando:
- Em que lugar saímos?
- Conheço esse lugar. Estamos numa das ruas de Roma ao redor do Vaticano. – respondeu o Chefe da Guarda.
- Para onde iremos, Santidade? – perguntou novamente o monge.
- Vamos voltar ao Vaticano.
- Santo Padre, lá provavelmente estamos sendo esperados. – disse prudentemente o monge.
- Não podemos abandonar a Barca de Pedro num momento tão importante meu jovem. – respondeu o Papa com voz embargada de certeza.
- Santidade, se temos realmente que voltar, sugiro pelo menos que andemos juntos apenas por algumas ruas, assim que chegarmos à Praça de São Pedro, acho melhor nos separarmos. Vamos por aqui que conheço bem esses caminhos. – falou o Chefe da Guarda já andando apressado.
Andando lentamente por algumas ruas estreitas já podiam deparar com alguns cadáveres de religiosos. Caminharam por essas vias dolorosas até chegarem à uma das entradas para a Praça de São Pedro. A imagem era devastadora. Centenas de corpos empilhados. Padres, freiras, monges, bispos, arcebispos, diáconos, juntos num mesmo mar de sangue.
- Meu Senhor e meu Deus. – pronuncio o Papa.
O silêncio era devastador, podia se ouvir o som da morte atravessando todas as partes.
- Precisamos verificar se ainda existe vida nesse lugar. – pronunciou o Papa novamente.
- Santidade, acredito ser mais prudente escondermos todas essas relíquias no Palácio Apostólico que olhando daqui ainda parece se encontrar em bom estado. Estando lá podemos verificar onde podem estar as tropas do filho do mal. Ele está morto, porém alguns de seus soldados podem não saber disso e estarem vigiando o que sobrou do Vaticano.
- Realmente é mais prudente, mas depois disso voltaremos urgente para tentar resgatar alguma vida.
O Chefe da Guarda acreditava ser mais prudente andar pelas ruas laterais e não entrarem na Praça de São Pedro. E assim eles fizeram. A ideia de caminharem separados foi abandonada. Mesmo lentamente chegaram ao Palácio Apostólico e preferiram entrar pelas portas laterais para não despertarem qualquer tipo atenção. Nos corredores puderam ainda encontrar mortos os religiosos que não tiveram tempo de se retirar das dependências do Vaticano.
Tudo era um imenso horror.
Subiram até um dos andares do Palácio que não tinham sido destruídos e lá esconderam as relíquias. Podiam daquela posição observar a Praça de São Pedro tentando enxergar se os soldados do filho do mal ainda se encontravam pelos arredores.
- Parece que eles foram informados da morte de seu líder e resolveram debandar.  – falou o Chefe da Guarda.
- Então vamos ver se conseguimos encontrar alguma alma viva, Chefe. – disse o Papa.
- Pode ser uma armadilha, Santidade. Eles podem estar escondidos aguardando que alguém apareça. Acho melhor ficarmos observando com mais calma movimento.
Todos concordaram e ficaram revezando os olhares pela fresta da janela, tentando também não serem percebidos.
Ficaram algumas horas incógnitos observando e monge Miguel foi quem viu um movimento entre os corpos que estavam estendidos na praça.
- Santidade, parece que vi um dos corpos se mexerem.
- Chefe, já observamos bastante. Vamos até lá tentar salvar vidas. – falou o Santo Padre.
- Vou sozinho e dou uma olhada em tudo.
- Não Chefe, vou contigo. Monge Miguel fica aqui guardando as relíquias.
Os dois homens desceram pelos corredores e foram na direção da Praça de São Pedro. No caminho viram uma imagem assustadora. Os soldados da Guarda Suíça e alguns seguranças estavam mortos empilhados na entrada do Palácio Apostólico. Pela primeira vez o Santo Padre viu o Chefe da Guarda encher seus olhos de lágrimas.
Tocou alguns corpos procurando vida, todos já tinham sido abandonados por ela.
Caminharam na direção da Praça de São Pedro e o Santo Padre, novamente andou por cima de cadáveres daqueles que tanto conhecia e que o tinham acompanhado por todos esses anos de Pontificado.
Aquelas sensações profundas ocasionaram uma perigosa distração e quando menos perceberam estavam cercados por alguns soldados do filho do mal.
O Chefe da Guarda tentou reagir com uma arma que havia retirado de um dos mortos que havia encontrado. Ao esboçar um pequeno movimento foi rapidamente atravessado por rajadas de projéteis que o derrubaram junto a montanha de corpos.
- O Papa. – disse o homem que liderava aquele pequeno grupo de soldados.
- O que faremos com ele? – perguntou um dos soldados.
- O mesmo que foi feito ao nosso líder maior.
- Primeiro deveríamos julgá-lo por seus erros. – disse outro soldado.
- O que Vossa Santidade tem em sua defesa? – perguntou o líder do grupo.
- Minha vida está nas mãos de Deus. – respondeu o Santo Padre.
- Pois hoje nós somos o seu deus. – afirmou o líder do grupo.
Saíram então arrastando o Santo Padre por entre os cadáveres e o encostaram no que sobrou do obelisco central da Praça de São Pedro. Não contaram até três para fuzilá-lo sem qualquer misericórdia.
O monge correu para olhar pela janela quando surgiram os primeiros tiros que tiraram a vida do Chefe da Guarda. Deu ainda tempo de presenciar a morte do Santo Padre. Daquele dia em diante ele se tornaria o guardião das relíquias e do Grande Sétimo.
A história imortalizaria o Santo Padre como Petrus Secundus.
Quanto a terra, ainda teria dias muito desconfortáveis. Eram os últimos minutos do tempo da noite, logo estariam chegando os primeiros raios do novo dia para o pequeno canteiro onde seria semeado o novo jardim de humanidade.

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