Capítulo 39
O PAPA DO FIM DOS TEMPOS
“Vi um
dos meus sucessores de nome igual, fugindo entre cadáveres de seus irmãos.
Refugiar-se-á incógnito, em alguma parte, e depois de um breve descanso,
morrerá de morte cruel.”
Papa Pio X
O Santo Padre e o monge ficaram então aguardando
a volta do Chefe da Guarda. Depois de alguns minutos ele estava de volta.
- Vocês me ouvem? – perguntou o Chefe da Guarda
da abertura do teto.
- Sim. – respondeu o monge.
- Vocês não vão acreditar. O corredor nos leva
para fora dessas catacumbas.
Todos sorriram de alegria.
O trabalho agora era tentar fazer os dois homens
que estavam abaixo passarem pela abertura da claraboia e levar também as
relíquias que os acompanhava.
Após algum tempo com muito sacrifício os três
homens estavam em um novo túnel, no entanto agora estavam a caminho de uma
saída daqueles mundos escuros e apertados. O destino, portanto era enfrentarem
o desafio final.
Assim que chegaram à claridade precisaram de um
tempo para se adaptar. Depois disso surgiram as perguntas e monge Miguel foi
logo se apressando:
- Em que lugar saímos?
- Conheço esse lugar. Estamos numa das ruas de
Roma ao redor do Vaticano. – respondeu o Chefe da Guarda.
- Para onde iremos, Santidade? – perguntou
novamente o monge.
- Vamos voltar ao Vaticano.
- Santo Padre, lá provavelmente estamos sendo
esperados. – disse prudentemente o monge.
- Não podemos abandonar a Barca de Pedro num
momento tão importante meu jovem. – respondeu o Papa com voz embargada de
certeza.
- Santidade, se temos realmente que voltar,
sugiro pelo menos que andemos juntos apenas por algumas ruas, assim que
chegarmos à Praça de São Pedro, acho melhor nos separarmos. Vamos por aqui que
conheço bem esses caminhos. – falou o Chefe da Guarda já andando apressado.
Andando lentamente por algumas ruas estreitas já
podiam deparar com alguns cadáveres de religiosos. Caminharam por essas vias
dolorosas até chegarem à uma das entradas para a Praça de São Pedro. A imagem
era devastadora. Centenas de corpos empilhados. Padres, freiras, monges,
bispos, arcebispos, diáconos, juntos num mesmo mar de sangue.
- Meu Senhor e meu Deus. – pronuncio o Papa.
O silêncio era devastador, podia se ouvir o som
da morte atravessando todas as partes.
- Precisamos verificar se ainda existe vida
nesse lugar. – pronunciou o Papa novamente.
- Santidade, acredito ser mais prudente
escondermos todas essas relíquias no Palácio Apostólico que olhando daqui ainda
parece se encontrar em bom estado. Estando lá podemos verificar onde podem
estar as tropas do filho do mal. Ele está morto, porém alguns de seus soldados
podem não saber disso e estarem vigiando o que sobrou do Vaticano.
- Realmente é mais prudente, mas depois disso
voltaremos urgente para tentar resgatar alguma vida.
O Chefe da Guarda acreditava ser mais prudente
andar pelas ruas laterais e não entrarem na Praça de São Pedro. E assim eles
fizeram. A ideia de caminharem separados foi abandonada. Mesmo lentamente
chegaram ao Palácio Apostólico e preferiram entrar pelas portas laterais para
não despertarem qualquer tipo atenção. Nos corredores puderam ainda encontrar
mortos os religiosos que não tiveram tempo de se retirar das dependências do
Vaticano.
Tudo era um imenso horror.
Subiram até um dos andares do Palácio que não
tinham sido destruídos e lá esconderam as relíquias. Podiam daquela posição
observar a Praça de São Pedro tentando enxergar se os soldados do filho do mal
ainda se encontravam pelos arredores.
- Parece que eles foram informados da morte de
seu líder e resolveram debandar. – falou
o Chefe da Guarda.
- Então vamos ver se conseguimos encontrar
alguma alma viva, Chefe. – disse o Papa.
- Pode ser uma armadilha, Santidade. Eles podem
estar escondidos aguardando que alguém apareça. Acho melhor ficarmos observando
com mais calma movimento.
Todos concordaram e ficaram revezando os olhares
pela fresta da janela, tentando também não serem percebidos.
Ficaram algumas horas incógnitos observando e monge Miguel
foi quem viu um movimento entre os corpos que estavam estendidos na praça.
- Santidade, parece que vi um dos corpos se
mexerem.
- Chefe, já observamos bastante. Vamos até lá
tentar salvar vidas. – falou o Santo Padre.
- Vou sozinho e dou uma olhada em tudo.
- Não Chefe, vou contigo. Monge Miguel fica aqui
guardando as relíquias.
Os dois homens desceram pelos corredores e foram
na direção da Praça de São Pedro. No caminho viram uma imagem assustadora. Os
soldados da Guarda Suíça e alguns seguranças estavam mortos empilhados na
entrada do Palácio Apostólico. Pela primeira vez o Santo Padre viu o Chefe da
Guarda encher seus olhos de lágrimas.
Tocou alguns corpos procurando vida, todos já
tinham sido abandonados por ela.
Caminharam na direção da Praça de São Pedro e o
Santo Padre, novamente andou por cima de cadáveres daqueles que tanto conhecia
e que o tinham acompanhado por todos esses anos de Pontificado.
Aquelas sensações profundas ocasionaram uma
perigosa distração e quando menos perceberam estavam cercados por alguns
soldados do filho do mal.
O Chefe da Guarda tentou reagir com uma arma que
havia retirado de um dos mortos que havia encontrado. Ao esboçar um pequeno
movimento foi rapidamente atravessado por rajadas de projéteis que o derrubaram
junto a montanha de corpos.
- O Papa. – disse o homem que liderava aquele
pequeno grupo de soldados.
- O que faremos com ele? – perguntou um dos
soldados.
- O mesmo que foi feito ao nosso líder maior.
- Primeiro deveríamos julgá-lo por seus erros. –
disse outro soldado.
- O que Vossa Santidade tem em sua defesa? –
perguntou o líder do grupo.
- Minha vida está nas mãos de Deus. – respondeu
o Santo Padre.
- Pois hoje nós somos o seu deus. – afirmou o
líder do grupo.
Saíram então arrastando o Santo Padre por entre
os cadáveres e o encostaram no que sobrou do obelisco central da Praça de São
Pedro. Não contaram até três para fuzilá-lo sem qualquer misericórdia.
O monge correu para olhar pela janela quando
surgiram os primeiros tiros que tiraram a vida do Chefe da Guarda. Deu ainda
tempo de presenciar a morte do Santo Padre. Daquele dia em diante ele se
tornaria o guardião das relíquias e do Grande Sétimo.
A história imortalizaria o Santo Padre como
Petrus Secundus.
Quanto a terra, ainda teria dias muito
desconfortáveis. Eram os últimos minutos do tempo da noite, logo estariam
chegando os primeiros raios do novo dia para o pequeno canteiro onde seria
semeado o novo jardim de humanidade.
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