Capítulo 36
MORRERÁ QUEIMADO
“Quando o filho da perdição
já tiver realizado seus desígnios, reunirá todos os seus crentes e lhes dirá
que subirá ao céu.”
“No momento dessa ascensão,
um raio o atingirá e morrerá queimado.”
“Por outro lado, a montanha
na qual se haverá estabelecido para sua ascensão, ficará por um instante
coberta por uma nuvem que exalará um odor de corrupção espantosa, realmente
infernal.”
Santa Hildegarda
O chefe
da guarda e o Papa preparam-se para saírem da sala sagrada. Ao tentarem, a
porta por onde entraram estava trancada.
-
O que faremos para sair daqui Santidade?
-
Tenha calma chefe, essa porta abre pelos dois lados. Por favor, segure o Grande
Sétimo enquanto eu tento abri-la.
O
fechamento da porta foi providencial, porque quando o Papa foi abri-la
recordou-se que outra delas podia ser aberta e os levaria para fora da
Basílica. Pelo menos é o que aparentemente podia se ver no mapa que ele havia
encontrado em Castel Gandolfo.
-
Chefe, tive outra ideia, vamos abrir aquela outra porta e sair por ela.
O
chefe da guarda então ficou surpreso e logo procurou acompanhar o Papa na
direção da porta que tinha um símbolo parecido com uma pomba.
O
Sumo Pontífice encontrou a mesma dificuldade para abrir a porta com o símbolo
do Espírito Santo que havia encontrado para abrir a porta por onde havia
entrado, só que dessa vez tinha por algum motivo certeza suficiente para
insistir na tentativa de abertura.
-
Santidade para onde nos levará essa porta?
-
Acredito que para fora do palácio, chefe.
-
Para que lugar exatamente Santidade, porque parece que nesse momento tudo está
cercado.
-
Vamos tentar, estou com o pressentimento que estão nos aguardando pelo caminho
que fizemos para entrar.
Com
a insistência do Papa a porta com o símbolo da pomba acabou se abrindo.
-
Deixe-me ir a frente, Santidade. – falou o secretário já caminhando na direção
da saída.
O
corredor parecia não ter sido aberto há séculos. Teias de aranha se
entrelaçavam e formava o que parecia ser uma rede de cordas, A escuridão
parecia ser ainda maior do que aquela que tinham encontrado no túnel por onde
haviam entrado. Só que o silêncio era profundo, dando a impressão que realmente
o Papa havia escolhido o melhor caminho a percorrer.
Mais
uma vez o secretário pegou o seu celular e começou a clarear o caminho para que
os dois pudessem seguir em segurança.
-
Santidade, o senhor já andou por esse caminho?
-
Não tive tempo secretário. – respondeu o Papa seguindo o seu escudeiro.
-
Como sabe onde vamos parar?
-
Só conheço esse caminho através de mapas.
O
secretário ficou surpreso e pensou em olhar para trás e observar o rosto do
Santo Padre, mas logo se recordou que na escuridão não ia dar resultado algum.
O
caminho que o Papa e seu segurança estavam seguindo era de difícil acesso. Só
se via a escuridão, em alguns lugares água empossada, em outros começaram a
subir uma escada de degraus todos tortos. Foi quando o secretário olhou para o
pulso e disse ao Papa:
-
Santidade, já estamos caminhando ha dez minutos e nem sinal de chegarmos a
qualquer lugar.
-
Secretário pelo que me lembro do mapa essa saída nos colocará fora do Vaticano,
portanto acredito que vamos realmente caminhar bastante.
O
Santo Padre e seu Chefe da Guarda caminharam o que parecia serem horas por
aquele corredor que tinha agora a impressão de ser infinito.
-
Santidade, parece que chegamos ao fim do túnel, só que aparentemente ele não
tem saída. – falou o secretário colocando as mãos numa parede que não parecia
ser nenhum tipo de porta.
-
Não é possível. – respondeu o Papa e continuo – será que não temos ai nenhum tipo
de fechadura como temos encontrado em outras portas?
Com
o celular tentando clarear a parede os dois homens começaram a revistar tudo
que estava diante dos dois. Onde não conseguiam ver tateavam à procura de
alguma forma de fechadura.
-
Santidade, parece que estamos apenas diante de uma parede e se aqui havia
alguma porta ela foi fechada por um muro de tijolos.
-
Das seis portas as únicas que abriam eram as que tinham o símbolo do Filho e a
do Espírito Santo, as outras quatro abriam apenas uma espécie de antessala, mas
que também não possuíam saídas, sempre acreditei que a sala que se referia ao
Espírito Santo nos levaria para fora do Vaticano.
-
Provavelmente isso era uma saída e possuía uma porta, só que foi fechada com
essa parede.
O
Santo Padre e seu chefe da guarda tiveram que retornar pelo mesmo túnel que
parecia ser a saída por onde retirariam o Grande Sétimo evitando dessa forma
que aquela relíquia caísse nas mãos do filho do mal.
-
Vamos ter que sair por onde entramos Santidade.
-
Tenho a impressão que estamos na verdade de alguma forma encurralados, nosso
destino está verdadeiramente nas mãos de Deus. – afirmou o Papa que apresentava
sinais de grande cansaço.
O
caminho de volta para a Sala Sagrada parecia agora durar anos. Assim que
chegaram a porta de onde haviam partido, o chefe da guarda afirmou:
-
Vossa Santidade está escutando?
O
Santo Padre ficou estático querendo ouvir.
-
Não ouço absolutamente nada.
-
É isso que está estranho. Enquanto andamos por esses corredores e quando
estávamos aqui nessa sala eu sempre ouvia algum tipo de ruído distante, só que
agora tudo está em silêncio.
Antes
mesmo que o secretário terminasse a sua frase os dois homens foram
surpreendidos.
Os
dois homens foram surpreendidos pelo filho do mal que os aguardava na Sala
Sagrada.
-
É uma honra estar diante da vossa presença, Santidade – falou aquele que já
recebia a alcunha de anticristo.
O
secretário tentou partir para cima do filho do mal e logo foi segurado pelos
homens que o acompanhava.
-
O que o senhor deseja? – perguntou o Papa.
-
Aquilo que está sobre vossa guarda. – respondeu o filho do mal, já indicando
para um de seus homens que retirasse das mãos do Santo Padre o Grande Sétimo.
Os
homens que acompanhavam o anticristo tiraram o Grande Sétimo das mãos do Papa a
força e a entregaram ao filho do mal.
-
O Senhor não imagina como procurávamos essa joia, chegamos a pensar que ela era
apenas uma criação da mente dos místicos. – disse o filho do mal com os olhos
cheios de cobiça.
- O que você pretende fazer com ela?
-
Abrir as portas de uma outra dimensão para este mundo.
-
Tragam-me os elementos que precisamos para realizar minha ascensão. – disse o
filho da perdição para aqueles que o acompanhava.
Foi
então que o falso profeta apareceu, aquele mesmo que o Santo Padre havia
ameaçado de excomunhão. Depositou no chão da Sala Sagrada uma maleta escura,
abriu-a e de dentro começou a retirar as relíquias que tanto foram procuradas
durante o pontificado.
-
Você não sabe o que está fazendo! -
falou o Papa ao filho do mal.
-Sua
Santidade está completamente enganada sei perfeitamente o que estou realizando.
-
E o que você acredita estar realizando?
-
Abrindo as portas das forças que para cá me enviaram e ao mesmo tempo
retornando para minhas origens. – respondeu o filho do mal.
Assim
que terminou o pedido do filho do mal, o falso profeta, aquele que estava por
trás de todas as dificuldades que a Santa Igreja vinha enfrentando, retirou da
mala preta que ele trazia todos os símbolos que preencheriam a seis portas da
Sala Sagrada.
O
falso profeta pegou uma a uma as relíquias que eram verdadeiras joias forjadas
em puro ouro. Colocou-as nas formas que estavam encravadas na porta e toda a
sala de alguma forma começou a se tornar dourada.
O
filho do mal arrancou a força os anéis que trazia o Papa com ele, e com as
joias abriu facilmente o relicário que ficava no chão da Sala Sagrada e para
mais surpresa ainda colocou o Grande Sétimo em seu devido lugar sem a menor
dificuldade.
A
Besta pretendia cumprir o que vinha dizendo aos seus fiéis: “No fim de minha
guerra ascenderei aos céus.”.
-
Bispo, traga o nosso homem. – falou o anticristo para o falso profeta.
O
falso profeta com alguns soldados abriu a porta por onde eles haviam entrado e
surgiu o Monge Miguel. Estava completamente desfigurado, provavelmente fora
preso e torturado.
-
O que você esta fazendo? – disse o Papa ao anticristo.
-
Cale-se – respondeu o filho do mal ao Santo Padre e indicando aos seus soldados
que o fizessem se calar.
Então
se dirigiu ao jovem Monge:
-
O que devo fazer agora meu jovem?
-
Perdoe-me Santidade. – disse o monge Miguel dirigindo-se ao Papa.
-
Faça o que tem que ser feito meu jovem amigo. – respondeu o Santo Padre como
pode.
-
Chega de conversas, o que devo fazer agora monge?
O
monge sem resistir, pois parecia ter sido já profundamente agredido respondeu
com dificuldades:
-
É necessário que todas as portas sejam fechadas, que todos se retirem e sozinho
se faça a oração do salmo 121.
O
filho do mal ficou surpreso com aquela informação, mas acreditou que tinha
sentido e pediu para que seus soldados se retirassem e levassem com eles todos
que se encontravam na sala. A porta por onde todos haviam entrado foi reaberta
e todos foram parar no corredor e por trás dela à espera do grande evento ficou
o falso profeta.
A
Sala Sagrada estava completamente clara com todos os seus elementos colocados
em seu devido lugar. O resplendor do encontro dos símbolos dourados das seis
portas com o Grande Sétimo ao centro e a claridade que emergia do alto tornaram
tudo aquilo mais dourado que um dia pleno de sol. O filho do mal então pegou o
Salmo 121 que havia sido entregue à ele pelo falso profeta e começou a orar. Os
seis símbolos da porta começaram a se alinhar com o Grande Sétimo quando foi
pronunciado o primeiro versículo. No segundo versículo o centro da sala se
despertou. O filho do mal ficou impressionado e continuo a receitar os demais
versículos e quando estava para chegar ao fim o céu e a terra começaram a se
unir numa mesma força. Quando tudo parecia estar dando resultado um grande
estrondo pode ser ouvido e a energia dispersada jogou o filho do mal contra a
parede queimando todo o seu corpo.
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