Capitulo 16
A INUNDAÇÂO
A grande cidade das sete colinas,
Depois da paz, guerra, fome e inundação:
Que se estenderão até longe, destruindo muitas regiões,
Mesmo as ruínas antigas e a grande fundação.
Nostradamus
O
Santo Padre então retirou do pequeno saquinho de pano que trazia consigo um
anel que o chefe da guarda nunca havia visto. Tinha a cor de uma gema de ouro e
brilhava como se tivesse saído daquele mesmo instante de um ourives.
-
Santo Padre o que fazemos agora?
-
Aguarde um momento chefe, vamos retirar o Grande Sétimo.
O
Papa então pegou o anel e colocou no dedo médio de sua mão esquerda.
Só
então o chefe da guarda que era tão observador percebeu que o Papa também
estava com o anel do pescador em sua mão direita.
Assim que pôde
se encontrar com agora seu secretário particular, o monge Miguel, o Santo
Pontífice contou-lhe todas as novidades com relação aos achados que haviam
feito nas catacumbas do Vaticano.
- Precisamos
o quanto mais cedo possível ver o que tem por trás desse painel, Santidade.
- Por que
você diz isso filho?
- Tenho a
sensação clara que estamos numa corrida para desvendar os mistérios, Santidade
e que não estamos sozinhos nessa busca e o que é pior não sabemos ao certo o
que nossos concorrentes sabem sobre tudo isso. Parece que eles provavelmente
conhecem todos os nossos passos.
-
Provavelmente suas deduções estão corretas, só que temos a força do Bem Maior
ao nosso lado.
O monge
ficou calado diante da afirmação. Então o Papa prosseguiu o dialogo.
- Você tem
razão meu jovem, precisamos verificar o que encontramos o quanto antes, vou
falar com o Secretário para que possamos voltar às catacumbas o mais rápido
possível. Estou encontrando dificuldades, pois esses dias minha agenda está lotada,
o mundo parece que a cada segundo caminha mais rápido para uma desordem
completa. Os sistemas e suas instituições não suportam as pressões que eles
mesmos criaram e estão se corroendo de dentro para fora, assim como nossa Igreja
parece também estar passando por esse mesmo processo. Parece que as forças
positivas não conseguem mais se agregar e nesse momento estão trabalhando mais
interiormente e individualmente como nós estamos fazendo, e que a forças
involutivas estão se encarregando de destruir o que nos cerca e em consequência
se autodestruírem.
- Posso
verificar sozinho o que Vossa Santidade encontrou?
- Não é nada
seguro. Iremos nós e com segurança dessa vez. – respondeu o Papa.
Apenas
depois de alguns dias de forma discreta o Secretário Geral conseguiu uma brecha
na agenda papal e levou consigo o chefe da guarda que primeiro vasculhou todos
os corredores para se certificar de que tudo estava bem e depois ficou na
entrada principal onde o Papa, o secretário, e o monge ficariam a vontade para
realizar as suas buscas.
Foram
diretos para onde se encontravam os dois anjos e o lindo mural. Monge Miguel ao
ver tudo aquilo quase caiu de joelhos não acreditando o que estavam
presenciando.
- Santidade,
os dois anjos carregam e protegem com suas espadas as duas estrelas como tínhamos
visto no livro e no anel que encontramos em Vossas férias. E os murais com dois
cães com dois sóis ao alto da cabeça nos fazem lembrar Sírios que sabemos hoje
ser uma estrela binária.
Os três
homens ficaram olhando para o mural admirando tudo aquilo ter atravessado
séculos e estar quase em perfeito estado.
- Então
podemos crer que existe algo por trás desse mural? – disse o secretário.
-
Provavelmente, olhem no pé do mural parece estar mais úmido que o restante do
corredor. – falou o monge.
Todos
olharam para o piso e realmente dava-se a impressão de que a própria pintura do
pé do mural parecia estar mais viva. Recordaram-se então que Roma tinha sido
inundada por uma tempestade nunca vista naqueles dias e que mesmo o Vaticano
estar em uma colina não deixou de sofrer com tal volume de água.
- Quem sabe
o mural se abra como abrimos a pequena abertura da estante onde encontramos o
mapa e o anel. – falou o Papa olhando para o mural.
Tentaram
empurrar a pintura para lá e para cá e nada, não dava para se comparar com o
que tinham visto em Castel Gandolfo. Eles estavam diante de uma armação de
pedra e não de madeira como era a estante.
-
Provavelmente existe alguma trava, ou alguma abertura onde se pode colocar uma
chave ou algo parecido. – falou o secretário tocando com as mãos o mural.
Os três
homens começaram com as mãos tentar encontrar algum tipo de abertura.
- Santidade,
em cada canto do mural há a representação de uma estrela e no centro delas a
imagem da estrela de seis pontas dentro de um circulo. Isso não pode ser apenas
coincidência.
O monge
então tocou na estrela mais próxima de seu lado direito onde se encontrava e
percebeu que essa espécie de miolo afundava.
- Muito bem
meu jovem, parece que realmente temos aqui uma espécie de fecho que destrava
algo parecido com um ferrolho nos cantos do mural, mas algum tipo de chave deve
abrir isso. – falou o Pontífice mexendo em um dos buracos das estrelas.
- Uma Pedra
desse tamanho não precisaria de nenhum tipo de trava, pois necessitaria de um
batalhão de homens para movimentá-la. – disse o secretário batendo mais forte
sobre uma das partes do mural, só que ao comprimir a mão sentiu não ser tão
forte assim e completou – parece ser apenas madeira maciça.
- Então
temos grandes chances de abri-la de alguma forma, só que como vamos tirar essas
trancas internas que já devem estar ai ha anos sem serem tocadas? – falou o
monge.
Enquanto
isso, o Papa observava dentro de si mesmo alguma forma de destravar aquilo e
quando levou a mão direita percebeu que o anel do pescador que estava em seu
dedo tinha o mesmo diâmetro do orifício e assim o colocou na abertura e girando
o seu punho tentava de alguma maneira destravar o segredo, só que não conseguia
porque as hastes laterais do anel não deixavam ele ir até o fundo da abertura.
Então se recordou do anel de Salomão que haviam encontrado e que agora mantinha
consigo. Abriu um dos botões centrais de sua veste e de um saquinho de pano
retirou o anel. Os dois homens ficaram boquiabertos olhando a atitude do Santo
Padre.
O monge e o
secretário não tiveram coragem de perguntar o que o Santo Padre estava fazendo
e enquanto isso o anel de Salomão foi colocado na abertura e girando o punho
ouviu-se algo que parecia estar destravando.
- Deu certo.
– afirmou o Papa sem perceber que seus dois companheiros estavam olhando para
ele como se um milagre tivesse acontecido.
O Pontífice
então colocou o anel no feche inferior do lado em que estava e ouviu o mesmo
barulho. Foi então para o lado contrário de onde estava e não conseguia fazer o
mesmo milagre.
- Talvez
desse lado possa ser anti-horário e não horário como do outro lado. – disse o
secretário.
Assim que o
Papa inverteu o movimento dos punhos pôde-se ouvir o destravar também do outro
lado. Correram então para empurrar a porta sem resultado.
- Quem sabe
ela não seja de correr? – falou o monge
Dessa
maneira os três homens tentaram arrastar a porta da esquerda para direita sem
resultados.
- Vamos
tentar no outro sentido.
Assim que
começaram a tentativa de arrastar a porta da direita para a esquerda ela se
moveu apenas por alguns centímetros, o que já era bastante para as suas buscas.
- Acho que
precisaremos de mais gente para tentar mover essa porta. – falou o secretário.
- Vamos
tentar apenas nós três. Não gostaria que outras pessoas se envolvessem nessa
procura, não sei o que pode estar por trás desse mural, mas enquanto não
soubermos é melhor mantermos tudo isso no maior segredo possível.
Então os
três homens instalaram juntos suas mãos na pequena abertura que tinha já se
instalado e conseguiram assim abrir de forma que uma pessoa pudesse passar.
Olhando pela abertura só se via a escuridão do que parecia ser realmente um
corredor.
- Não
podemos entrar nessa escuridão. – disse o secretário.
Dessa vez
quem surpreendeu foi o monge retirando do bolso de seu hábito uma lanterna. Os
outros dois homens ficaram surpresos e o jovem foi justificando-se:
- Sempre
tive dificuldades com o escuro e achei que íamos encontrar algo parecido nessas
profundezas.
- Vão vocês
dois. Ficarei aqui na entrada para que não sejamos surpreendidos de alguma
forma. – falou o secretário.
O Papa confiando
na sabedoria de seu amigo logo concordou com a
ideia.
- Vamos meu
jovem espero que essa sua lanterna tenha pilhas o bastante para nos guiar.
- São pilhas
novas. – respondeu o jovem sorrindo.
Os dois
homens se aventuraram então pela passagem estreita que só permitia o trânsito
de um de cada vez. O jovem monge ia a frente rompendo pelas teias de aranha que
frequentemente tocavam seu rosto e enquanto isso, o Papa o seguia com uma
sensação estranha que aqueles corredores estavam sendo inundados de água.
- Não parece
que vamos a qualquer momento ser cobertos pela água? – falou o Papa.
- Santidade
tudo aqui parece estar inundado até os fios das teias. – respondeu o monge e
apontando a lanterna para frente sem conseguir ver o final daquele corredor que
agora parecia mais ser um túnel.
- Esse lugar
ou foi ou será coberto completamente pelas águas, posso sentir uma onda
invadindo cada centímetro desses túneis. – disse o Papa com uma forte
impressão.
- Só espero
que não seja nem agora nem nas próximas horas Santidade. – respondeu o monge
com um tom de brincadeira.
Os dois
homens ficaram caminhando por um bom tempo encontrando somente a escuridão. Só
sentiram uma diferença quando o corredor se estreitou e logo voltou a se abrir,
talvez fosse uma curva.
- Parece que
esse túnel não chega a lugar nenhum e andando no escuro é pior ainda dá a
impressão que estamos sempre caminhando no mesmo lugar.
O Papa mantinha-se
calmo apenas seguindo o monge e esperando ver uma fresta de luz que não fosse
daquela lanterna. Quando parecia terem chegado ao fim do túnel e o que era pior
não havia saída.
- Parece que
nos encontramos em um beco sem saída, Santidade. – falou o monge apontando a
lanterna para o fim do corredor.
- Não
existem caminhos sem saída meu jovem, existem apenas obstáculos a serem
contornados. – respondeu o Papa já tocando com as mãos o fim do túnel.
- Será uma
outra porta? – falou o monge Miguel afastando-se e tentando iluminar com maior
amplitude o lugar.
- Se for uma
porta estamos diante de uma outra fechadura, ou ela abriria apenas por dentro!
– disse o Papa para o seu agora escudeiro como se já estivesse falando consigo
mesmo.
- Tudo aqui
está tão escuro e empoeirado que fica difícil encontrarmos até mesmo uma fechadura
gigante.
- Se for uma
porta ela provavelmente será aberta pela mesma chave que abriu o mural lá no
início de nossas buscas.
- Isso tem
muito sentido Santidade. – falou o monge tentando limpar tudo que vinha com as
mãos e principalmente nos cantos a procura de um pequeno buraco naquela nova
passagem.
Achei. –
falou o Papa confiante.
O monge
procurou iluminar a mão do Papa onde ele parecia ter encontrado uma fechadura e
eles puderam ver novamente a estrela de Salomão e no meio dela uma abertura
igual a que tinham encontrado no mural de entrada.
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