Capítulo 28
A Paz! A Paz!
“Tenho medo da parte do oriente. Explodirá uma guerra ali com
tanta rapidez que à noite se dirá: A paz! A paz! E não haverá paz, pois os
inimigos se encontram já à porta e por todo lugar ressonarão os ruídos de guerra.”
“Não será uma guerra de religião, e os que creem em Cristo farão
causa comum. Explodirá um sinal principal sobre a guerra para saber quando ela
será iniciada: esse sinal será a fraqueza geral em assuntos de religião e a
corrupção dos costumes em diversos lugares.”
Jasper
Com
o celular tentando clarear a parede os dois homens começaram a revistar tudo
que estava diante dos dois. Onde não conseguiam ver tateavam à procura de
alguma forma de fechadura.
-
Santidade, parece que estamos apenas diante de uma parede e se aqui havia
alguma porta ela foi fechada por um muro de tijolos.
-
Das seis portas as únicas que abriam eram as que tinham o símbolo do Filho e a
do Espírito Santo, as outras quatro abriam apenas uma espécie de antessala, mas
que também não possuíam saídas, sempre acreditei que a sala que se referia ao
Espírito Santo nos levaria para fora do Vaticano.
-
Provavelmente isso era uma saída e possuía uma porta, só que foi fechada com
essa parede.
O Santo Padre chamou
o seu mordomo e pediu para que convocasse urgente o seu secretário Rafael.
Assim que ele se apresentou foi falando rapidamente:
- Precisamos ir à
Jerusalém de qualquer maneira e de passagem iremos à Turquia. Você acredita que
pode localizar aquilo que procuramos?
- Tenho quase certeza
que sim. – respondeu o secretário retirando de seu habito um arquivo digital.
- O que você tem aí?
- Imagens dos
pergaminhos de como deveriam ser construídos os lugares que ocultariam os
símbolos.
- Você deu essas
dicas para o monge Miguel tentar encontrar as relíquias a que se referem os
quatro elementos?
- Sim Santidade,
informei apenas os detalhes que achei relevante. Ainda tenho dificuldades em
acreditar que o jovem seja capaz de manter segredos fundamentais sobre sua
guarda.
- Entendo, você tome também
muito cuidado com esses documentos, porque os que querem nos destruir estão em
nosso encalço. – falou o Papa pegando em suas mãos os arquivos.
- Tenho dormido com
eles, Santidade.
- Vamos aproveitar a
grande crise que se instalou novamente no oriente médio e visitaremos Jerusalém
para localizarmos os símbolos. Vamos aproveitar e fazer uma escala em Istambul
para tentarmos completar o serviço.
- Não sei se deveríamos
Santidade! – falou o secretário com voz de preocupação e devolvendo para trás de
seu hábito os arquivos eletrônicos.
- Estou decidido meu
amigo.
- E se isso for
determinante para que o conflito se agrave?
- Já pensei nisso, só
que acredito que qualquer ataque a Israel é na verdade um ataque aos filhos de
Abraão e por isso dificilmente um conflito dessa magnitude possa se
concretizar.
- Tenho minhas
dúvidas. – disse o secretário e depois de pensar por alguns instantes completou
– talvez eles queiram é que esse conflito realmente se generalize.
- Vamos ter que
enfrentar nosso destino seja ele qual for e venho orando para que possamos
conduzir nossos fiéis para um novo tempo. – disse o Papa.
Depois de algumas
semanas a vontade do Pontífice se fez, ele e sua comitiva estavam num avião com
destino a Jerusalém. Quase todos não acreditaram que o Santo Padre tomaria uma
atitude tão ousada, pois afinal ele poderia ser o fogo que ascenderia o estopim
de inicio de uma guerra que tinha tudo para se tornar uma catástrofe em termos
planetários.
Antes de chegar a
Jerusalém o secretário Rafael já havia com autorização do Papa enviado um
cardeal de sua confiança para preparar toda a visita junto ao Patriarca Latino
da Igreja em Jerusalém. Mesmo reconhecendo todos os perigos da visita do Santo
Padre, o Patriarca fez de tudo para que aquela visita se tornasse o mais seguro
possível em virtude do iminente conflito.
Enquanto o Papa
promovia a visita protocolar em busca de paz para a região o seu secretário
sairia numa procura discreta pelas relíquias que marcariam o local exato do
esconderijo do símbolo do Filho.
Rafael de imediato
quis visitar discretamente a Catedral do Santo Sepulcro, pois tinha quase
certeza que se existisse algum lugar em que o símbolo do Filho pudesse estar
representado seria naquele lugar sagrado para os cristãos.
O secretário já havia
estado anteriormente dentro da igreja construída sobre as pedras onde havia
morrido Jesus, só que daquela vez tinha passado quase que como um turista. O
que recordava claramente era da emoção que havia sentido por estar no mesmo
lugar do martírio e da ressurreição do líder maior de sua fé.
Ao começar a entrar
novamente naquele santuário seu coração estava completamente tomado de alegria,
assim como a igreja também estava tomada de gente. Preferiu assim, pois se
misturando aos visitantes poderia olhar detalhe por detalhe sem ser percebido,
principalmente porque aquele templo era administrado não apenas por católicos e
sim principalmente por ortodoxos.
O secretário havia pesquisado tudo sobre a
igreja e por isso sentia que poderia se decepcionar com sua busca porque aquele
monumento histórico - havia sido construída sobre um templo romano de Adriano e
posteriormente destruída pelos persas e que reconstruída sofreu nova destruição
pelos mulçumanos. Foi desse evento que sobraram apenas os pilares da igreja da época
de Constantino e que com a retomada de Jerusalém pelos cruzados foi erguida uma
nova basílica que basicamente era a que se podia se ver até hoje – dificilmente
teria conseguido abrigar algum segredo por esses dois séculos de mudanças
ferozes.
Antes de
entrar na igreja, Rafael tentou memorizar todos os detalhes que estavam
revelados no pergaminho que desvendava a localização do Símbolo do Filho. O sol
e a cruz, ele se recordava bem deviam estar alinhados e entre os dois estaria
uma espécie de relicário onde a joia sagrada seria depositada. Esses símbolos
estavam em quase todas as igrejas e por todos os lugares sagrados do mundo
cristão.
Já dentro do
Santuário, o secretário pode ver a capela construída no centro onde Jesus foi
sepultado e ressuscitou. Sobre ela o domo deixava entrar um enorme feixe de luz
que representada a luz do mundo. Caminhou em sua direção na busca de encontrar
o que procurava, entrou lentamente naquele lugar sagrado e ali não encontrou
nada. Saiu e tentou caminhar lentamente por mosaicos que representavam as
diversas formas de crucificação e ressureição de Jesus.
Só quando sua
atenção se dirigiu para o local reluzente onde estava o Cristo crucificado
debaixo de um arco dourado acreditou poderia estar perto do que procurava.
Olhou então procurando o símbolo do sol que representava o Pai e não encontrou.
Teve que se aproximar lentamente porque era um dia comum de visitas e mesmo com
todo aquele boato de guerra o santuário estava completamente tomado. Enquanto
muitos turistas apenas passeavam, muitos religiosos procuravam orar por paz
para aqueles tempos, mas todos naquela igreja o que queriam como sempre era que
as lutas cedo ou tarde cessassem como vinha acontecendo a anos naquelas terras.
Diante
daquele amontoado de gente ele seguiu procurando o tal relicário e se
surpreendeu quando conseguiu olhar para os seus próprios pés e ver o que
parecia serem raios, como estavam muitas pessoas ficou olhando cada pedaço
daquele mosaico que estava representando no piso em frente ao símbolo de Jesus
crucificado. Na confusão procurou retirar de seu hábito uma cópia daquilo que
procurava, o que via sobre os seus pés era exatamente o que estava retratado no
pergaminho. O símbolo de Jesus crucificado estava diante do sol. Entre eles
estava o altar do qual se aproximou lentamente e lá o local exato onde esteve a
cruz que recebeu o corpo de Jesus um dia. Debaixo dele uma proteção de vidro
que mostrava num andar abaixo uma espécie de gruta. Continuou assim olhando
tudo ao seu redor no meio daquelas pessoas procurando algum tipo de abertura,
sinal ou relicário que mostrasse o símbolo que ele procurava.
Um homem
observou que aquele homem não era apenas um visitante comum.
- O senhor
está a procura de alguma coisa? – perguntou um monge ortodoxo se dirigindo ao
secretário trajado como um homem comum para não ser percebido.
- O senhor poderia me
dizer como faço para estar naquela gruta que está debaixo do altar? – respondeu
o secretário com outra pergunta.
- Posso leva-lo até lá. Sou um dos monges responsáveis
pela administração do Santuário e o Senhor nos parece ser um visitante que vem
de longe.
- Venho do Vaticano.
- O senhor está sem o
seu hábito!
- Estou junto com a
comitiva do Papa que está em Jerusalém e resolvi conhecer melhor o Santo
Sepulcro.
- O Senhor pode me
acompanhar vou mostrar-lhe como se chega ao local exato da crucificação de
Jesus Cristo.
O secretário ficou
sem saber exatamente se o que estava acontecendo era bom ou ruim, porque sua
procura agora estava acompanhada de um monitor, mas sem ajuda provavelmente
teria mais dificuldades. Acreditou que a providência tinha se manifestado.
O monge ortodoxo
seguiu abrindo caminho pela multidão que existia naquele santuário com tanta
facilidade que fez o secretário se recordar que ele parecia Moisés abrindo o mar
morto. Seguiu assim colado no monge aproveitando as suas passadas.
Em poucos segundos atravessado o mar de gente
o monge já começava a descer uma escada que levaria para uma abertura debaixo
do santuário.
- Ali esta o lugar
exato onde acreditamos ter sido crucificado Jesus Cristo. – falou o monge
apontando para o centro da gruta.
O secretário se
aproximou já como quem observa em todos os detalhes algo como uma tampa ou
parede ou pedra que possa esconder o relicário que procurava. Percebeu que o
local rústico era desprovido de qualquer símbolo e para onde o monge havia
apontado era uma espécie de pedra talhada. Começou a pensar consigo mesmo ‘Se
tivesse que esconder algo muito precioso onde colocaria!’. Instintivamente
olhou para cima e pode ver a sala superior através do vidro que estava abaixo
do altar. De onde olhava viu que debaixo da cruz onde estavam os pés de Jesus
crucificado parecia ter uma abertura como daquelas que abriam os locais de
acesso à Sala Sagrada.
- Agradeço por vossa
preocupação e por ter me acompanhado. – falou o secretário ao monge que se
mantinha ao seu lado.
- Fique a vontade. O
senhor é um padre não é mesmo? – falou o monge ao secretário que ficou surpreso
com a afirmação.
- Isso mesmo. –
respondeu o secretário percebendo que o habito que sempre vestira agora mesmo
quando não o usava continuava sendo vestido de alguma forma.
- Se precisar de algo
estou a vossa disposição. – afirmou novamente o monge agora se retirando.
O secretario Rafael
ficou ainda por algum tempo observando a gruta e procurou não chamar mais a
atenção só que antes de sair voltou para o andar superior e se abaixou para
observar novamente a sala do andar inferior só que agora olhando também para o
pé da cruz que se encontrava no mural a sua frente e nele pode observar que
seria necessário o anel de Salomão para conseguir abrir o que parecia ser o
cofre procurado.
O Santo Padre se
mantinha em conversas e conferencias em Jerusalém e estava em estado de
ansiedade esperando notícias de seu secretário Rafael em sua procura. Assim que
ele chegou foi recebido:
- Então amigo como
foram as buscas? – perguntou o Papa com voz de ansiedade.
- Parece que
encontrei o local que procuramos Santidade, só que para chegarmos até ele vamos
ter alguns problemas.
- E quais seriam?
- Precisamos estar a sós,
porque o lugar é bem público e vamos provavelmente necessitar do anel de
Salomão para abrirmos o que parece ser uma espécie de cofre.
O secretário contou
detalhadamente tudo que havia ocorrido em sua busca e depois disso foi tomar
providências oficiais para visitar o Santuário do Santo Sepulcro juntamente com
o Santo Padre.
No dia posterior o
Santuário fechou suas portas mais cedo e o Papa e seu secretário acompanhado do
Patriarca de Jerusalém estavam diante do Cristo Crucificado. O secretário pegou
o anel de Salomão e abriu uma pequena abertura ao pé da cruz, dentro dela um
relicário lindo todo dourado como estava detalhado no pergaminho ao qual ele
entregou ao Santo Padre que o abriu lentamente. Dentro dele apenas um papel com
uma data em algarismos romanos. A relíquia já tinha sido descoberta.
- Chegamos tarde secretário.
– falou o Pontífice, parece que esperando por aquilo.
- Verdade, basta
apenas entendermos quanto tempo estamos atrasados.
O Patriarca de
Jerusalém se manteve paralisado tentando entender o que era tudo aquilo.
Naquela mesma semana
o Santo Padre voltou de Jerusalém ao Vaticano só que com uma parada na Turquia.
Ao partir levou consigo a paz que vinha sendo respeitada durante a sua visita.
A guerra invadiu as casas da região e feriu novamente o coração de seus
habitantes só que agora com a lamina que não cicatriza. Todo o mal, a
perversidade, o ódio que havia se condensado por milênios nos céus do oriente
agora estavam para ser derramados na forma de um Armagedom.
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